E foi nesse exótico conclave que o ex-reitor Sampaio da Nóvoa sentiu estar em terreno propício para fazer uma melodramática declaração de pré-candidatura presidencial. «Estou disposto a morrer pela liberdade», jurou o ex-reitor, como se o país vivesse hoje em ditadura militar opressora dos mais básicos direitos ou como se Portugal estivesse em risco de anexação castelhana.
Sampaio da Nóvoa quer marcar o seu lugar na grelha de partida para Belém dizendo que «com políticos antigos não haverá política nova». Quer assim afastar à partida qualquer concorrência vinda do PS, PCP ou BE (como Guterres ou Vitorino, ou Lopes ou Louçã). Mas escusa de exagerar tanto na oratória e na encenação.
Até porque estavam ao seu lado naquele esdrúxulo Congresso – e não fora da sala da Gulbenkian – alguns dos seus potenciais concorrentes à esquerda da corrida a Belém. A começar por Carvalho da Silva, que dois dias antes revelava ao país «estar disponível» para uma candidatura a apresentar ainda «antes das legislativas». E a continuar por Marinho Pinto, Garcia Pereira, Paulo Morais ou até Joana Amaral Dias – tudo figuras com egos político-presidenciais ao nível de Sampaio de Nóvoa e Carvalho da Silva.
Até a insustentável leveza política de Maria de Belém a levou a deixar-se ir na onda. «Não excluo, nem incluo» uma candidatura a Belém, informou a deputada socialista. Que fez, no entanto, questão de acrescentar que é António Guterres quem «tem um perfil ajustadíssimo ao exercício de funções presidenciais».
Guterres, aliás, devia pôr a mão na consciência. Este rocambolesco desfile de vaidades pessoais e ambições presidenciais de figuras sem a menor dimensão política é o resultado das indefinições e omissões do ainda ACNUR. Já era tempo de esclarecer de uma vez por todas: sim ou sopas, é ou não candidato. E de pôr fim a este pobre espectáculo.
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