O ADN futebolístico da RTP

Há menos de quatro meses, soube-se que o conselho de administração da RTP presidido por Alberto da Ponte havia adquirido, por 18 milhões de euros, os direitos de transmissão dos jogos da Liga dos Campeões para as próximas três épocas, afastando a TVI do negócio. O ministro da tutela, Poiares Maduro, achou “desagradável” saber do…

Semanas depois, era confirmado como novo presidente do CA da RTP Gonçalo Reis. Que, curiosamente, já opinara sobre o modelo de supervisão e tutela da RTP que “o CGI é um tiro ao lado, dilui a responsabilização e torna confusa a linha de comando. Não resolve os problemas e inventa outros”.

Mais curiosamente ainda, Reis veio informar o país de que, afinal, “a Liga dos Campeões está no ADN da RTP” e tem um impacto nas audiências que “é brutal”, pelo que a RTP não irá sequer atenuar o investimento e sublicenciar a outros canais, a TVI ou a SIC.

Confusos? Não é caso para menos.

Para além da confrangedora desautorização pública com que o ministro Poiares Maduro e o CGI saem deste episódio, é, mais uma vez, a mistificação do ‘serviço público’ da RTP que está em causa. Ora, a realidade é que a programação da RTP1 tem o mesmo ADN da TVI e da SIC, é uma televisão comercial formatada pelo mesmo tipo de audiências, de grelhas, de jogos de futebol.

E a definição de serviço público continua ao mesmo nível da caça aos gambozinos – fala-se muito mas ninguém sabe o que é. O que nos oferece a RTP1 que a SIC ou a TVI não dêem já (e, frequentemente, com melhor qualidade), que oferta diferente tem a RTP1? Esta é a pergunta que vale 165 milhões de euros (que os portugueses pagam na subreptícia taxa audiovisual para sustentar uma televisão igual às outras – e muito mais cara).

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