Marco António descobriu agora que “não se pode arrastar a decisão até tão tarde” e que “a regra seria abrir o dossiê presidenciais depois das legislativas, mas essa regra não é inflexível”. Até porque, alvitra, se houver “pessoas que decidem apresentar candidaturas, o cenário muda completamente”. É fácil perceber que o ex-autarca de Gaia do PSD quer abrir caminho a uma candidatura de Rui Rio. E, para isso, tem que forçar a nota: se candidatos como Marcelo ou Santana são tão conhecidos dos portugueses que quase dispensam a campanha presidencial, muitos outros há – como Henrique Neto ou Sampaio da Nóvoa ou Rui Rio – que precisavam de vários meses nas televisões, em cartazes, em comícios, em entrevistas e debates para ganharem alguma notoriedade e consistência política.
Marco António sabe que Passos Coelho não morre de amores pelas eventuais candidaturas de Marcelo Rebelo de Sousa ou Santana Lopes e decidiu, por isso, atirar o barro de Rui Rio à parede, a ver se pega. Mas é uma jogada aparelhística arriscada. Porque forçaria o PSD a uma guerrilha e divisão internas de apoios a vários candidatos. E porque reduziria a candidatura presidencial a uma marioneta de um partido.
Por fim, mas não menos importante, a verdade é que Rui Rio não tem dimensão política para ser colocado em Belém. É uma figura de segunda linha, uma espécie nortenha de Fernando Gomes do PSD, sem um pensamento estruturado sobre o país. Estriba-se num populismo apocalíptico (o regime está bloqueado, os partidos não se regeneram, a democracia está em perigo), em ideias bolorentas como a regionalização ou num moralismo autoritário com assomos salazarentos.
Tudo pouco recomendável.