Ainda não é desta
A revista cientifica Live Science publicou mais um estudo sobre os benefícios da sesta. Os resultados levam à conclusão de que há uma diferença entre dormir sesta ou não. Os que dormem têm um aumento de 20% na produtividade. Acredito e se pudesse dormia sesta todos os dias. Porém, há qualquer coisa que não bate certo. Esta superioridade dos 'sestistas' não parece ter relevância histórica ou, no melhor dos casos, não tem efeitos continuados. Por exemplo, e para não ir mais longe: Espanha. É verdade que foi um país em expansão entre os séculos XV e XVII, rico e poderoso, mas não consta que os espanhóis tenham deixado de dormir a sesta nos séculos XIX e XX. Imagino que a prática da sesta também deva ser mais popular no México do que no seu vizinho americano. Porém, apesar de terem ganho a batalha de Álamo, perderam a guerra. Enfim, mesmo com Churchill, que dormia e ganhou a guerra, diria que ainda não é desta que vou começar a fazer sesta.
Rendo-me
Uma imagem de uma menina síria publicada no Twitter da fotojornalista Nadia AbuShaban tornou-se viral, com 1500 retweets em poucos minutos. A menina está com os braços postos para cima como se estivesse a mostrar que se rendia. Tem uma carinha triste e os olhos abertos numa expressão em que parece pedir que não lhe façam mal. Ou é isto que pensamos ajudados pelo tweet que acompanha a imagem: “Fotojornalista tirou a imagem de uma criança síria, que se rendeu quando pensou que a câmara era uma arma”. Os comentários que se seguiram foram todos no sentido de concordar com a descrição que estava a ser feita. A criança teria agido por instinto e posto as mãos no ar, talvez como alguém lhe ensinou a sobreviver, ou como viu os adultos fazerem no meio daquele cenário de horror. A fotografia é comovente se acreditarmos nesta versão e passa a ser menos quando surge a dúvida. Será uma foto encenada? Não faz mal. Não deixará de ser comovente por isso.
A herança
Felizmente, perguntaram-me se estava a gostar d'A herança na semana em que a série dinamarquesa estreou na RTP 2. Não sabia o que era, mas graças aos poderes de gravação da box e à magia do 'ver do início', pude ver os primeiros episódios. Veronika Grønnegaard, uma artista plástica reconhecida, morre e deixa inesperadamente a mansão extraordinária onde vivia e trabalhava, à filha Signe, que tinha sido entregue em adopção ao pai e à mulher. Os restantes filhos, apresentados como egoístas e gananciosos, estão cada um à espera de herdar a casa e as discussões sobre partilhas começam logo no dia do velório. Depois de Borgen, outra série dinamarquesa transmitida pela RTP 2, sobre o quotidiano da política em Copenhaga, protagonizado por uma mulher no cargo de primeira-ministra, temos um drama familiar bem contado. Confesso que desconhecia o talento dos dinamarqueses para a ficção televisiva. Tenho pena que não apareçam séries portuguesas assim.
Aos domingos
O jornal The New York Times tem uma rubrica intitulada 'Sunday Routine' sobre precisamente a rotina domingueira de cada convidado. O último foi Tim Gunn, de 61 anos, que conhecemos do saudoso programa Project Runway. Começa por se levantar às seis da manhã, faz exercícios matinais e sai às 7h30 para comer uns ovos num café perto. Aí lê o NYT, claro, e volta a casa para se vestir. É dia de ir ao Metropolitan Museum, do qual é membro desde 1985, por isso veste um fato e põe uma gravata. A ocasião é solene e precisa de estar vestido à altura do que vai ver. Vai a pé até ao museu, pelo Central Park, e aproveita para observar as árvores e a arquitectura. Já no museu, demora o seu tempo numa obra em particular e não corre como os turistas ansiosos por verem tudo e que ficam sem ver nada. Almoça no segundo andar, lê e refere com entusiasmo os livros de Adrian Goldsworthy. Fica por ali até o museu fechar. À noite chega a casa e agradece a vida que tem.