Nos sete hectares de terreno que pretendem adquirir entre a vila de Alfeizerão e Vale de Maceira, quatro empresários chineses prevêem erguer um bairro de luxo chinês com 57 moradias com cerca de 300 m2, um hotel com lojas, piscinas e campos de ténis e uma escola privada onde se ensine mandarim e português.
“Um projecto destes, avaliado em 35 milhões de euros, é muito importante para a região”, admite ao SOL o presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, Paulo Inácio, que já se reuniu duas vezes com os investidores chineses no ano passado.
A ideia é concentrar no concelho estes estrangeiros que para conseguir uma autorização de residência em Portugal têm de investir pelo menos 500 mil euros no sector imobiliário.
Por isso, o projecto para este bairro chinês é ambicioso. As luxuosas casas com tipologias T4 e T5 vão ter um jardim privado e estarão voltadas para um lago artificial a construir no centro do terreno de forma a respeitar a filosofia oriental do Feng Shui – segundo a qual, a localização das casas, nomeadamente a porta de entrada e a disposição dos quartos, tem influência na harmonia e nas energias existentes.
Esta Chinatown de sete hectares terá também um hotel, com SPA. A unidade hoteleira contará com várias lojas e campos de ténis e ainda duas piscinas, uma delas coberta e outra ao ar livre. No exterior, será erguido um jardim oriental.
Os promotores, sabe o SOL, pretendem que esta unidade hoteleira seja usada como centro de negócios, onde os chineses possam realizar reuniões e eventos de forma sossegada e discreta. Mas, ao mesmo tempo, poderá ser utilizado pelos visitantes e familiares dos residentes no condomínio. No local, será ainda construído um parque de painéis solares para produzir energia suficiente para todo a Chinatown de luxo.
Foi depois de ter vindo a Portugal, há três anos, ao casamento da irmã com um português, que o empresário Xie Liu idealizou o projecto. “O meu cunhado apaixonou-se por este local”, adiantou ao SOL, Carlos Pereira, que é natural de Alfeizerão, acrescentando que foi a partir dessa altura que o empresário decidiu apostar no país.
A empresa de Xiu Liu já é hoje uma exportadora de vinho português para a China, nomeadamente de vinhos da região de Alcobaça, de Alenquer e do Douro, explica Carlos Pereira.
Para concretizar a nova ideia, Xiu Liu entrou em contacto com outros três empresários do seu país para serem seus parceiros nesta negócio em Alfeizerão e tirarem proveito do facto de os chineses serem os recordistas no recurso aos vistos gold, desde que este programa começou a ser aplicado, em 2012.
Segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, das 2.203 autorizações de residência concedidas a estrangeiros até ao mês passado, 1.777 foram a cidadãos chineses. “Os que querem ter os vistos têm adquirido imóveis dispersos. Mas agora poderão ter aqui um condomínio só para si, que tem várias valências que respeitam o gosto e a estética oriental”, explica Carlos Pereira, garantindo que está também prevista a criação de uma escola, fundamental para que estes estrangeiros possam fixar-se.
Para que o condomínio chinês seja bem recebido pelos 3.800 habitantes de Alfeizerão, todos poderão beneficiar do espaço, garantiu ao SOL o presidente da Junta de Freguesia, Leonel Ribeiro: “A ideia é que meio hectare do terreno possa ser usado para criar um parque de merendas para a população local”.
Terreno é reserva agrícola
Para que o projecto avance, adianta Leonel Ribeiro, os empresários aguardam que a ministra da Agricultura dê a devida autorização para a construção de habitações nestes terrenos, uma vez que cinco hectares são reserva agrícola nacional. Só depois da luz verde do Governo, que terá de declarar que os lotes têm estatuto de utilidade pública, os chineses podem comprar estes hectares à empresa privada que os detém.
Para que o Executivo aprove a alteração de estatuto, a Câmara Municipal tem antes de aprovar um parecer sobre a questão. “O assunto será levado à próxima reunião e a minha expectativa é que as restantes forças partidárias também irão aprovar, mas a decisão final cabe ao Ministério do Ambiente”, adiantou ao SOL o autarca social-democrata de Alcobaça.
Paulo Inácio espera, depois disso, que o ministério de Assunção Cristas possa aprovar rapidamente a alteração. “Para estes empresários chineses é importante investir já”, avisa o presidente da Câmara, acrescentando que a “celeridade processual” é fundamental para a concretização de um projecto que “será um factor de desenvolvimento para o concelho”.
Essa é também a expectativa do presidente da Junta de Alfeizerão. “Estes cidadãos chineses que para aqui vierem morar são empresários com poder económico e vão querer investir na região”, diz Leonel Ribeiro, lembrando que em Alfeizerão vivem muito poucos chineses, que se dedicam sobretudo ao comércio.
“Para um projecto destes ter sucesso, é preciso criar condições, pois os chineses gostam de viver juntos e quando chegam a um país querem trazer as famílias”, diz o presidente da Liga dos Chineses,Y Ping Chow. Segundo este responsável, a comunidade chinesa em Portugal já deverá ultrapassar as 20 mil pessoas – apesar de o último Census de 2011 apenas registar 11 mil.
Para Y Ping Chow, este projecto “é inédito” e vai mudar a forma como os chineses com vistos gold – que têm sobretudo adquirido casas em Lisboa e nos arredores da capital – investem em Portugal.
joana.f.costa@sol.pt