Galeano, segundo o diário espanhol, encontrava-se internado desde sexta-feira, num hospital da capital uruguaia, por causa de um cancro nos pulmões, de que padecia.
"Las venas abiertas de América Latina" ("As veias da América Latina"), que publicou em 1971, e "Memoria del fuego", de 1986, trilogia da História das diferentes Américas, destacam-se da sua obra, que se estende por mais de quatro décadas e que se encontra traduzida em mais de 20 idiomas.
Galeano nasceu a 03 de Setembro de 1940, numa família católica de classe média, na capital uruguaia. Na infância quis ser jogador de futebol – facto que expõe em alguns dos seus textos, como "O futebol de sol a sombra" -, mas antes de se transformar num intelectual da esquerda latino-americana, foi operário, desenhador, mensageiro, empregado bancário.
Iniciou a carreira jornalística na década de 1960, como editor do semanário Marcha, onde também se cruzaram Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti, e do diário Época.
Em 1973, o golpe militar do Uruguai levou Galeano à prisão e ao exílio na Argentina, onde fundou a revista "Crisis", que dirigiu até à instituição, no país, da ditadura do general Jorge Videla, em 1976.
Galeano era um dos resistentes mais procurados pelos esquadrões da morte. Exilou-se em Espanha, onde iniciou a trilogia "Memória do Fogo". Regressou ao Uruguai, após a queda da ditadura, na década de 1980.
Escreveu "As veias da América Latina" quando tinha 31 anos. A obra, proibida pelas ditaduras da Argentina, Chile e Uruguai, depressa se transformou numa das mais citadas sobre a evolução política do continente. Mais tarde, porém, o autor reconheceu que, naquela época, ainda não tinha maturidade suficiente para completar a tarefa: "Tentei fazer uma obra de economia política, mas não tinha a formação necessária", recorda o diário El País. "Não me arrependo de ter escrito o livro, mas é uma etapa que, para mim, está superada".
Em 2009, durante a quinta Cimeira das Américas, o antigo presidente da Venezuela Hugo Chávez deu um exemplar desta obra ao presidente norte-americano, Barack Obama. Nessa ocasião, "As veias da América Latina", segundo o diário espanhol, passaram da posição 60.280 da lista dos livros mais vendidos na Amazon, para a décima, num só dia.
O escritor, interrogado sobre este episódio, respondeu: "Nem Obama nem Chávez poderão entender o texto […]. [Chávez] pode ter dado a obra com a melhor das intenções, mas ofereceu-o num idioma que Obama não conhece. Pode ter sido um gesto generoso, mas foi um pouco cruel".
Em 2011, Galeano este presente nas "acampadas" da Praça do Sol, em Madrid, e de Barcelona, que se opunham às políticas de austeridade. Na altura, destacou a "energia de dignidade" e "o entusiasmo" das manifestações. "Entusiasmo é uma vitamina E", afirmou, uma palavra que vem do grego e que significa que "os deuses estão dentro". "E isso é o suficiente para me convencer de que a vida vale a pena".
"Siglo XXI"/"Século XXI", o seu último livro, uma colectânea de contos, será publicado em Espanha na próxima quinta-feira.
Lusa/SOL