Maria Feliz há mais de 20 anos que se dedica à medicina popular. Débora e Silvano são atores da companhia de teatro Filandorra que recorrem a chás para cuidar da voz, cujo dia se assinala hoje a nível mundial.
Maria é alemã e escolheu viver junto ao rio Sôrdo, em Moçães. É preciso descer uma encosta longa e íngreme para chegar a sua casa, e é ao longo deste trajecto que planta e recolhe muito do que precisa para a sua alimentação ou para os remédios naturais que faz.
"A natureza fornece-nos praticamente tudo o que precisamos", afirmou à agência Lusa.
Desde uma pequena infecção a uma doença mais grave, Maria garante que há flores, folhas, raízes ou frutos que ajudam nos tratamentos, aos quais diz que há cada vez mais pessoas a recorrer.
Para a voz e as doenças que podem afectar a garganta, criou algumas receitas que "qualquer pessoa pode fazer em casa".
Por exemplo, para uma rouquidão ou constipação, preparou um antibiótico caseiro com própolis, uma substância resinosa obtida pelas abelhas, à qual junta álcool e que depois se deve tomar conjuntamente com pólen.
Já para uma laringite crónica criou um chá mais complexo que leva vários ingredientes: perpétua roxa, salva, flor de sabugueiro, violeta, algumas folhas de língua de ovelha, limão e gengibre, e que se deve beber ao longo do dia morno e adoçado com mel.
Algumas destas plantas podem também servir para fazer compressas que depois se colocam junto ao pescoço.
São receitas que tratam os males da voz e que diz que são mais baratas.
Na sede da Filandorra, na cidade de Vila Real, os atores começam por fazer o aquecimento da voz, um passo essencial no cuidado que têm que ter com esta importante ferramenta de trabalho.
"Os espectáculos aqui são muito constantes. Mesmo que não seja espectáculos num teatro são espectáculos de rua, portanto a nossa voz está sempre 'on fire'. Temos mesmo que cuidar dela senão não há nada", afirmou à Lusa Débora Ribeiro.
E, na hora de escolher entre remédios químicos ou naturais, esta actriz disse prefere os naturais e que é ela mesma que faz os chás em casa e que leva para o local de trabalho.
Os seus preferidos são os de perpétua roxa, de gengibre ou até o mais comum, de cidreira.
"Principalmente quando estou afónica o chá de gengibre é aquele que mais efeito faz. No final temos que trincar a raiz e chupar um pouco. É horrível mas tem os seus benefícios", referiu.
Silvano Magalhães tem voz possante e faz questão de a tratar com o máximo de cuidado. Não fuma, não bebe bebidas geladas ou gaseificadas e protege a zona do pescoço quando está o tempo mais frio.
"E sim, opto por beber chás, principalmente antes dos espectáculos", sublinhou.
Este actor gosta do chá de perpétuas roxas, mas também do de casca de cebola.
"Falo por experiência própria. Já fiquei afónico na noite de uma estreia e não houve remédio comprado na farmácia que resolvesse a situação. Optei pelos remédios naturais como os chás e naquele momento eu fiquei bem", referiu.
É também uma ferramenta que se desgasta e por isso diz que, antes de entrar no palco, é preciso não falar muito alto, não gritar, porque isso pode também "romper as cordas vocais".
"Se não tivermos estes cuidados, mais tarde ou mais cedo vão aparecer nódulos nas cordas vocais e isso é um problema muito grave", sublinhou.
Este actor garante que consegue actuar apenas com a sua voz e corpo, mesmo sem cenários, figurinos ou palco.
"Na Filandorra há muitos espectáculos com muita palavra, o que nos exige todos estes cuidados", concluiu.
O Dia Mundial da Voz foi comemorado pela primeira vez em 2003 com o objectivo de dar visibilidade à voz.
Lusa/SOL