Mandado construir pelo rico comerciante João Duarte de Faria em 1754-55, com as pinturas interiores, nomeadamente da escadaria, executadas em 1760, representa uma das mais preciosas e distintas obras do rococó civil a nível europeu.
A plasticidade das suas linhas, com a simetria do edifício a contrastar com a assimetria das ornamentações em granito das molduras de portas e janelas, cria um dinamismo de belo efeito dramático. Daí sobressai a secção central, com um portal profusamente enfeitado, a que se sobrepõe uma janela que o liga a um frontão curvo, a destacar-se da restante fachada. Esta decoração só tem paralelo com a riqueza da ornamentação naturalista, feita de conchas, grinaldas, jarras e festões.
Foi desta monumentalidade que o visconde de São Lázaro, Miguel José Raio – bracarense que fez fortuna no Brasil e adquiriu o edifício em 1834 – se quis gabar.
Assim, abriu em 1863 uma rua em frente à casa, para que esta pudesse ser mais facilmente vista e admirada. É a actual Rua do Raio, traçada como transversal à antiga Rua dos Granjinhos, em cujos gavetos o visconde de São Lázaro mandou também levantar dois edifícios, um para habitação da filha, outro para alojar a senhora que dele se ocupava.
Foi ainda nesse período que o Palácio do Raio foi revestido a azulejos padronizados, adquirindo a tonalidade azulada que o distingue. Com a morte do visconde, em 1882, os herdeiros venderam a Casa do Mexicano ao então Banco do Minho, que no ano seguinte a revendeu à Santa Casa da Misericórdia.
Foi assim que o Palácio do Raio se viu integrado no complexo de edifícios comunicantes que constituíam o antigo Hospital de São Marcos, fundado em 1508 e sob gestão da Santa Casa da Misericórdia de Braga de 1559 a 1975, que foi extinto em 2011.
Funcionava aí, nomeadamente, a morgue do hospital.
Desde então tem estado devoluto, havendo rumores de que as obras actualmente em curso, recuperando alguma da azulejaria degradada das fachadas, sirvam para o adaptar a Museu da Misericórdia de Braga, com exposição de aparelhos, máquinas e diversos utensílios usados nos antigos hospitais.
Apesar de classificado como Imóvel de Interesse Público em 1956, não pode dizer-se que tenha sido tratado com a dignidade que a sua importância e originalidade arquitectónica merece e necessita. Mas ainda assim, quando me pedem conselhos sobre edifícios a visitar, ponho sempre à cabeça a Casa do Mexicano – mesmo sabendo-a apenas visitável por fora, não obstante a pujança sensual da escadaria nobre, ornada por um exótico turco à guisa de convite para entrar, que o seu interior alberga.