Nos últimos cinco anos, a Formação Bruta de Capital Fixo – um indicador que reflecte sobretudo investimentos como a compra de novas máquinas ou instalações fabris, por exemplo – caiu cerca de 30%. A retracção ocorreu quer no investimento público quer no sector privado e penalizou a capacidade produtiva do país. Portugal é actualmente o terceiro país da União Europeia com menos investimento em percentagem do PIB, atrás da Grécia e de Chipre.
Mas as perspectivas estão a melhorar. Nas últimas previsões económicas, divulgadas no final de Março, o Banco de Portugal antecipa que o investimento empresarial aumente “de forma robusta” nos próximos tempos: 4% já em 2015 e 4,4% no ano seguinte.
Esta evolução é explicada pelo banco central com a conjugação de vários factores: perspectivas mais favoráveis da procura por produtos e serviços das empresas, depois de anos de recessão, a necessidade de renovação do stock de capital após um longo período de redução do investimento, e o aumento da capacidade produtiva na indústria transformadora e dos serviços e alguma melhoria nas condições de financiamento.
O presidente da Associação Industrial Portuguesa, José Eduardo Carvalho, confirma ao SOL as perspectivas positivas. “A médio prazo, o investimento poderá continuar a trajectória iniciada em 2014, com níveis de crescimento com significado”, antecipa.
O responsável antevê maior dinamismo em áreas ligadas ao turismo, à indústria automóvel, aos equipamentos eléctricos e para comunicações, nos transportes e na logística.
Nos serviços, prevê um bom desempenho nas tecnologias de informação, na agro-indústria e nalguns segmentos do imobiliário. “O novo ciclo de apoio dos programas comunitários será uma boa oportunidade, na medida em que poderá ser um dos catalisadores para o crescimento do investimento produtivo”, admite.
O investimento é uma peça-chave na evolução sustentável da economia. Com o consumo interno a aumentar depois de anos de recessão, e com as exportações em desaceleração, as despesas das empresas podem animar a economia e compensar o aumento das importações que o consumo interno traz.
É uma forma de criar postos de trabalho e de reduzir o desemprego sem acentuar os desequilíbrios externos do país.
Exterior envia 6,6 mil milhões
Numa economia ainda muito dependente do consumo interno, a reorientação dos recursos para áreas produtivas será determinante. E os projectos oriundos do estrangeiro podem dar um contributo relevante.
Segundo explicou ao SOL o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Miguel Frasquilho, o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) “tem registado uma evolução muito positiva”. O organismo público responsável pela captação de investidores externos registou em 2014 o melhor ano dos últimos oito, com “mais de 6,6 mil milhões de euros angariados para a economia portuguesa”.
Frasquilho considera que as perspectivas de investimento são positivas, já que a economia nacional “é hoje percepcionada como muito mais competitiva”. Segundo o gestor, o país corrigiu os desequilíbrios estruturais da economia e lançou reformas no mercado laboral, na justiça, no licenciamento e nos impostos empresariais que são elogiadas no exterior. “Portugal está a criar um ambiente muito favorável ao investimento”, frisa.
A AICEP tem registado “bastante interesse por parte de investidores, com projectos que ascendem a alguns milhares de milhões de euros”.
Neste momento, diz, o organismo acompanha “várias dezenas de projectos” de investimento de várias geografias, em sectores como o automóvel, a agro-indústria, os centros de competências ou a aeronáutica.
De facto, esta semana trouxe novidades na aviação. A Embraer, que tem duas fábricas de componentes de aviões em Évora, anunciou a intenção de reforçar a produção em Portugal, recorrendo a fundos comunitários, para poder fabricar no Alentejo novos modelos de jactos.
joao.madeira@sol.pt