Costa mal imaginaria, quando se decidiu a depor António José Seguro do cargo, que logo no Congresso da consagração seria atingido em cheio pela bombástica notícia do que o anterior líder do PS e primeiro-ministro ao longo de seis anos havia sido colocado em prisão preventiva pelas autoridades judiciais. Foi um autêntico soco no estômago do recém-empossado António Costa. Desde então, ao longo destes quatro meses e meio, Costa tem sido forçado a conviver com desagradáveis e corrosivas notícias quase diárias sobre o processo, as manigâncias, os milhões e o luxuoso estilo de vida de Sócrates. Convenhamos que não é fácil. E talvez a fraca prestação do PS nas sondagens, onde Costa permanece igual a Seguro, seja em grande parte uma consequência do destrutivo 'efeito Sócrates' em muitos eleitores que lhe tinham dado, a ele e ao PS, a confiança do seu voto.
Mas uma segunda fatalidade atingia, quase em simultâneo e de forma fulminante, a nova liderança de Costa: de um dia para o outro, perdeu o trunfo eleitoral e político de ter um candidato presidencial vencedor, como era António Guterres. Pior: depois da recusa de Guterres, nem Vitorino nem Gama, ninguém com o necessário estatuto no PS se dispôs a avançar. E, em último recurso, Costa teve que se virar para um candidato de terceira linha, esquerdizante e potencialmente perdedor, como é Sampaio da Nóvoa.
Reconheça-se que são dois acontecimentos politicamente devastadores para um líder em estreia de funções.
É certo que o próprio António Costa também tem ajudado bastante à desgraça, sem propostas alternativas claras e mobilizadoras, com um discurso errático e pontuado de gafes, num tom crescentemente crispado e eleitoralmente desaconselhável.
Costa é uma desilusão, está muito abaixo das expectativas que gerou, no PS e fora dele. Mas bem pode agradecer a Sócrates e Guterres boa parte dos infortúnios que está a viver.