Há alguns anos, o sistema financeiro era conhecido por proporcionar as remunerações mais elevadas do país. Hoje, os níveis salariais mais generosos encontram-se em empresas do sector transformador. Além da Semapa, que opera nas áreas da floresta, da pasta de papel, da energia e do cimento, as empresas com cheques mais chorudos para os gestores são a EDP e a Galp, ambas produtoras de energia. A Portucel, que é controlada pela Semapa e fabrica papel, também aparece no topo. José Honório recebeu 1,4 milhões de euros no ano em que saiu do grupo.
Grupos não-financeiros pagam mais
Nos bancos, a contenção salarial é notória. “Após a crise no sistema financeiro que conduziu à recapitalização da banca em Portugal com recurso a instrumentos através de fundos públicos, foi exigida uma disciplina remuneratória dos órgãos sociais das instituições financeiras”, explica ao SOL o presidente do Instituto Português de Corporate Governance, Pedro Rebelo de Sousa.
Durante o programa de assistência financeira, os bancos que recorreram a empréstimos do Estado para se recapitalizarem tiveram inibições salariais na administração. Mas, mesmo com a devolução dos cortes salariais que teve quando o BPI pediu ajuda estatal, Ulrich aparece apenas a meio da tabela. “O sistema bancário tem estado sob um elevado escrutínio e pressão não só em Portugal, mas por toda a Europa, desde o início da crise financeira em 2008”, diz ao SOL Rui Luz, director da Hay Group Portugal, uma consultora de gestão.
Durante a crise, verificou-se que os prémios dos gestores estiveram na origem da tomada excessiva de riscos. “Uma das consequências foi um merecido acréscimo de atenção por parte dos accionistas e autoridades sobre estes aspectos, que conduziram à introdução de várias medidas de limitação ou de regulação dos pacotes retributivos da gestão de topo destas instituições”, acrescenta.
Os grupos não-financeiros, por seu turno, têm demonstrado “maior capacidade de gerar e distribuir valor para os respectivos accionistas”. E os vencimentos reflectem essa tendência.
Nos grupos de distribuição e nas telecomunicações, apesar de tudo, houve alguma contenção. Os salários pagos no ano passado estão ligeiramente abaixo dos que foram atribuídos no ano anterior. Em companhias donas de supermercados, como a Sonae e a Jerónimo Martins, a quebra no consumo – e a consequente estagnação das receitas – teve impacto nas remunerações dos gestores. Mas o principal motivo terá que ver com “a responsabilidade social e o equilíbrio que quiseram introduzir para reduzir a amplitude de salários”, explica José António Rousseau. Na opinião do ex-director geral da Associação de Empresas de Distribuição e actual presidente do Fórum do Consumo “há uma maior consciência nestas empresas que o gap entre os salários mais baixos e os mais altos era elevado”.
Prémios aumentam
Os dados da Hay referentes a Portugal vão ao encontro da tendência verificada pelo levantamento do SOL: num ano em que a economia portuguesa apresentou uma ligeira recuperação, a retribuição dos executivos também aumentou. De um modo geral, a retribuição base dos gestores aumentou 1,5% e a retribuição total (base+prémios) subiu ainda mais: 5,5%. Esta tendência foi mais evidente em organizações de dimensão média.
Segundo a Hay, a retribuição variável tende a manter um peso maior no mix de vencimentos dos executivos, mas houve uma alteração de critérios na sua alocação: “O factor mais importante para a sua atribuição passou a ser o dos resultados da organização, em vez do desempenho individual”.
A retribuição de médio e longo prazo é destacada como um instrumento de remuneração nos países europeus e Portugal não foi excepção. Os pacotes de benefícios flexíveis são outra tendência de remuneração que ganhou importância nos últimos anos.
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