Pouco antes de fazer 78 anos, o ‘patriarca’ das famílias que ainda controlam 51% do grupo Volkswagen lançou a polémica há duas semanas, ao dizer na revista Der Spiegel que o CEO Martin Winterkorn não seria o seu sucessor, e que o queria manter à distância. Seguiram-se manobras políticas ao nível do topo da hierarquia do grupo e tentativas de reconciliação. No dia 16 houve mesmo uma reunião de emergência da cúpula da holding para resolver o diferendo, e Piech concordou em refrear-se nas críticas, rever a sua posição e dar o apoio a Winterkorn, de 67 anos.
No entanto, notícias avançadas na sexta-feira, e confirmadas depois no sábado, indicavam que Piech nunca desistiu do seu plano para afastar o CEO. Filho do fundador da Porsche, um dos ramos principais do grupo da Volkswagen, Piech moveu influências para que outros administradores o ajudassem a substituir Winterkorn por Matthias Mueller, patrão da Porsche, que chegou a ser contactado pelo chairman nesse sentido.
Foi essa a gota de água que levou à decisão final do conselho de administração da Volkswagen: exigiram-lhe que se demitisse ou seria demitido. Piech resignou-se à saída, sendo acompanhado pela mulher, Ursula, que também integrava a administração do grupo alemão. Como presidente interino ficou Berthold Huber, que já era vice-chairman, mas que também é ao mesmo tempo o principal representante dos trabalhadores na administração do grupo alemão.
Winterkorn, o gestor mais bem pago da Alemanha, com um salário anual de 16 milhões de euros, saiu assim reforçado desta situação. E as acções da Volkswagen subiram quase 5% esta segunda-feira, ganhando mais de 10 euros para um total acima dos 241 euros por título.
No entanto, Piech ainda pode ter uma palavra a dizer, ou melhor, exigências. Segundo a Reuters, os 13,2% que ele detém de acções da Volkswagen valem perto de dois mil milhões de euros, o que obriga a muitas contas e reorganizações caso ele queira vender a sua parte – ainda mais com os títulos em máximos de dez anos.
Por outro lado, a ‘ajuda’ dos sindicatos a Winterkorn pode ter um efeito contrário a médio prazo. O CEO tem em marcha um grande plano de cortes na despesa para rentabilizar melhor as operações do grupo, pelo que os trabalhadores deverão procurar usar a influência dos últimos dias mais a seu favor. Também o estado da Baixa Saxónia, que controla uma parte do grupo Volkswagen, influenciou as decisões do fim-de-semana e exercerá o seu poder nos próximos tempos. O grupo Volkswagen é segundo maior construtor de automóveis do mundo, com 100 fábricas e dezenas de marcas.
Guerra acesa no grupo Volkswagen