No Museu da Eletricidade estão, a partir de hoje, as fotografias premiadas, reflexo da cobertura jornalística do que se passou no mundo em 2014 com recursos a vários meios para lá da lente tradicional. Há imagens premiadas captadas com telemóveis, câmaras microscópicas e através de "drones".
À entrada do museu, a primeira imagem que se vê é a fotografia distinguida com o Grande Prémio World Press Photo: o retrato íntimo de um casal homossexual, num quarto em São Petersburgo, na Rússia, feito pelo dinamarquês Mads Nissen.
A fotografia diz respeito à situação de perseguição e discriminação que a comunidade de lésbicas, homossexuais, bissexuais, transsexuais e trangéneros sofre na Rússia. "O júri gostou do trabalho por causa do tema e por tudo o que está por detrás", disse hoje o comissário da exposição, Jure Hansen, numa visita guiada.
Aos fotógrafos e jornalistas é-lhes pedida honestidade e verdade, quando se candidatam aos prémios da World Press Photo, independentemente das técnicas e recursos utilizados: "Não se pode acrescentar ou tirar nada de uma fotografia", disse.
Este ano, o concurso internacional ficou marcado por uma polémica, com um dos trabalhos vencedores na categoria "Temas contemporâneos", assinado por Giovanni Troilo, a ser desqualificado por não ter cumprido as regras e porque as fotografias em causa não correspondiam à realidade.
Questionado pela Lusa sobre o impacto dessa desqualificação na própria organização dos prémios, Jure Hansen afirmou que o que o fotógrafo italiano fez foi "inaceitável" e que não se enquadra nos padrões de qualidade da World Press Photo.
"Estamos sempre em debate com a indústria e o World Press Photo ajuda a indústria, até porque as diferentes práticas [da fotografia e do fotojornalismo] mudam e ajustam-se", disse. Mas aos profissionais que concorrem é-lhes exigido, pelo menos, que não mintam, sublinhou.
Nas paredes da exposição World Press Photo há trabalhos que registam, em diferentes escalas e perspetivas, acontecimentos globais e particulares da vida no planeta.
Pela primeira vez, o concurso distinguiu reportagens de fundo, feitas ao longo de vários anos, como a que a fotógrafa Darcy Padilla realizou, entre 1993 e 2014, acompanhando a vida privada e a degradação física de Julie, uma mulher toxicodependente, até à morte.
Nas diferentes categorias do concurso, há fotografias sobre a propagação do vírus Ébola em África, sobre uma escola religiosa para transexuais na Indonésia, sobre a banalidade da vida quotidiana de uma cidade japonesa, sobre os enforcamentos públicos no Irão ou as perigosas viagens de imigrantes no Mediterrâneo.
Há fotografias tiradas com telemóveis, como a que Ronghui Chen fez numa fábrica de artigos de natal, na China, e outras captadas com recursos a drones, por Tomas Van Houtryve.
O rosto de uma rapariga no meio dos protestos de 2014 em Istambul, o corpo de um passageiro num campo de trigo, de um avião que caiu na Ucrânia, e os objetos pessoais e roupa de algumas das crianças raptadas pelo grupo Boko Haram são outras fotografias premiadas que se destacam na exposição.
Lisboa é uma das primeiras cidades a acolher a exposição, que ficará no Museu da Eletricidade até 24 de maio.
Ao concurso do World Press Photo concorreram 97.912 fotografias, de 5.692 fotojornalistas e fotógrafos de 131 países.
Lusa/SOL