EUA pedem músculo ao parceiro japonês

A imprensa chinesa não deixou escapar: durante a conferência de imprensa que Barack Obama e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, protagonizaram em Washington, o seu país foi referido nada menos do que 12 vezes.

O próprio líder norte-americano não escondera o objectivo, em entrevista ao Wall Street Journal publicada na véspera da chegada de Abe: “Se não escrevermos as regras, será a China a escrevê-las na região”. Obama referia-se à parte económica, lembrando que “os negócios e a agricultura dos EUA correm o perigo de ser afastados” do mercado asiático, embora o seu encontro com o aliado de Tóquio tenha progredido mais na vertente militar.

Washington garante um “apoio firme” à Defesa do Japão, incluindo na promessa as pequenas ilhas cuja soberania de Tóquio tem vindo a ser questionada por Pequim. Por seu lado, Abe promete uma “reinterpretação” da Constituição que permita terminar com uma era em que o planeamento militar do país se limitava a acções de defesa, inaugurada após o fim da II Guerra Mundial.

Proteger o flanco

Michael J. Green, representante do vice-presidente para a Ásia, explicou que o acordo “permitirá ao exército dos EUA contar com o Japão” em matéria de planeamento militar, tanto na região como noutros pontos do globo. “Quando lhes perguntarmos, ‘conseguem segurar o nosso flanco esquerdo?’, os japoneses em princípio conseguirão fazê-lo”.

Se nos EUA a oposição republicana aplaude – “momento histórico”, chamou-lhe John McCain – em Tóquio centenas de pessoas manifestaram-se contra as alterações, enquanto o líder do comité de revisão constitucional, Hajime Funada, disse à Reuters que a proposta de Abe “está no limite do que é permitido pela actual Constituição”.

É um regresso aos “jogos políticos do século XX”, informou a agência de notícias do Estado chinês. “Não saberá Abe que é só um peão?”, questionou a Xinhua.

nuno.e.lima@sol.pt