E quando Cavaco tirou o tapete a Passos?…

“Sinto muitas vezes que há uma extraordinária injustiça” quando se analisam os papéis de Passos Coelho e Paulo Portas na crise que este provocou, no Verão de 2013, com a sua “demissão irrevogável” do Governo – dizia Assunção Cristas ao SOL, na passada semana. E salientava “a flexibilidade para voltar com a palavra atrás” do…

No momento em que PSD e CDS anunciaram a renovação da coligação de Governo, a primeira em 40 anos a conseguir chegar ao fim da legislatura, é justo destacar a figura fulcral de Passos Coelho. Ao longo de quatro anos altamente desgastantes, soube resistir contra tudo e contra todos: contra as exigências da troika, os maus ventos que sopravam dos mercados e agências de rating, a contestação nas ruas aos cortes nas pensões e salários, os desmotivadores números do desemprego, as dissensões no interior do Governo, o corrosivo papel de ‘polícia bom’ do CDS ou as retumbantes demissões em cadeia de Vítor Gaspar e Paulo Portas. Passos Coelho enfrentou e superou tudo isso.

Sem esquecer que o próprio Presidente da República lhe tirou, por mais de uma vez, o tapete, ora agitando o fantasma de uma “espiral recessiva”, ainda o Governo não ia a meio do seu mandato e do seu programa, ora propondo uma abstrusa antecipação de eleições, com a dissolução do Parlamento e a queda do Governo, no momento mais difícil para Passos, em plena crise do Verão de 2013.

Não deixa, por isso, de ser irónico ver a maioria dos comentadores de esquerda a criticarem Cavaco Silva pela sua ‘colagem ao Governo e à maioria’. Deviam ter estado na pele de Passos Coelho no tempestuoso ano político de 2013, quando, além de tudo o resto, ainda teve que lidar com os caprichos e a falta de solidariedade política de Belém.

Passos resistiu à troika, às críticas da oposição, à demissão de Portas, às incompreensões de Cavaco e a quatro anos de coligação. É um sobrevivente. Falta ver se resiste nas legislativas aos efeitos eleitorais e colaterais de três anos de dura austeridade. 

jal@sol.pt