Os dados enviados ao SOL pelo comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) da PSP indicam também uma descida de 23% nos roubos por esticão. Mas, de forma geral, segundo esta Polícia, o número de ocorrências criminais «tem sofrido um decréscimo durante o período de Maio de 2014 a Janeiro de 2015».
Moradores não sentem grandes diferenças
Apesar disso, os moradores dizem não sentir a diferença – e muitos nem sequer sabiam que o sistema de videovigilância está a funcionar.
Regina Nogueira é uma delas: mora no histórico bairro lisboeta há quatro anos e estava convencida de que as câmaras aí instaladas «nunca estiveram ligadas até hoje». Regina critica a forma como as câmaras estão distribuídas, uma vez que a zona onde mora não é vigiada e, por isso, «há mais oportunidade para fazer crimes», defende. «À uma da manhã, já não me sinto segura na rua».
Segundo Luís Paisana, presidente da associação de moradores do Bairro Alto, o facto de as câmaras só terem entrado em funcionamento um ano depois de serem instaladas fez com que muitos dos moradores não tenham sequer a certeza que as câmaras de vigilância se encontram activas. «O sistema já está activo, mas como esteve um ano e tal para entrar em funcionamento, devido a um conflito entre a CML e a PSP, criou-se a ideia de que, de facto, nunca iriam ser ligadas», disse ao SOL.
«Para mim, não trouxe solução absolutamente nenhuma. E gastaram 300 mil euros – não é brincadeira!», diz ao SOL Arménio, morador e comerciante do Bairro Alto. Não costuma ver situações de crime à sua porta. O único problema que sente prende-se com as paredes do seu estabelecimento, frequentemente vandalizadas por tags grafitados – um dos problemas deste bairro histórico de Lisboa e que vai sendo solucionado pelos próprios moradores. «Eles comigo não se safam. Eu antigamente tinha aí uma lata de 20 kg de tinta e pintava por cima, mas agora adoptei outro sistema: metade é cal branca. A tinta ainda pega, mas depois é só raspar e sai», explica.
Os residentes e os comerciantes não negam que o sistema de vigilância tem a vantagem de ser dissuasor, até porque a maior parte das pessoas não sabe onde estão as câmaras, o que pode retrair comportamentos mais agressivos.
Hilário Castro, representante dos comerciantes do Bairro Alto, diz ao SOL que o sistema de vigilância «é sempre uma mais-valia e conforto para lojistas e turistas, desde que tenha alguma utilidade», mas que, de facto, «o seu efeito dissuasor não está a ser sentido». E aponta a venda de substâncias estupefacientes nas zonas de maior concentração de pessoas como a maior preocupação dos comerciantes: «A fiscalização feita pelos polícias muitas vezes não dá em nada porque os 'traficantes' não estão a vender droga, mas folhas de louro prensado».
O SOL tentou apurar se o sistema – constituído por 27 câmaras de vigilância, operadas pela PSP entre as 18h e as 7h, já auxiliou na identificação de agressores e traficantes de droga. A PSP respondeu apenas: «Existem inquéritos a decorrer, contudo não nos é possível saber os resultados dos mesmos».
Os moradores dizem continuar a ser «os mais penalizados» com os problemas de ruído até altas horas da madrugada, «devido aos utentes que, mesmo após o horário de fecho dos bares, permanecem na rua aos gritos, ou a partir garrafas», explica Luís Paisana. Ao ruído, acrescem a falta de higiene das ruas, que ficam cheias de lixo e urina, problemas antigos que têm sido denunciados à Câmara Municipal de Lisboa (CML). «A Junta de Freguesia da Misericórdia gasta, só para limpeza, mais de um milhão de euros – um terço do seu orçamento -, o que mesmo assim não resolve o problema», diz.
Contudo, o problema-base é «o consumo e venda de álcool na via pública». «É a partir daí que vêm os excessos, como as rixas e assaltos, que embora não sejam muito frequentes, vão acontecendo», frisa Luís Paisana, lembrando que este problema tende a alastrar-se a outras zonas, centrais da cidade, como «Cais do Sodré, Santos e Arco do Cego».
Sistema de vigilância poderá ser alargado
O Cais do Sodré é outra zona onde a vida nocturna e edifícios de habitação coexistem, pelo que os grandes ajuntamentos de pessoas na rua, à noite, apresentam consequências semelhantes ao nível da higiene urbana, da ocupação do espaço público, do ruído e da segurança.
Desta forma, a Junta de Freguesia da Misericórdia solicitou à CML o alargamento da «instalação do sistema de videovigilância a outras áreas da freguesia, nomeadamente o Cais do Sodré e a zona do Miradouro de Santa Catarina», disse ao SOL a presidente, Carla Madeira. A autarquia confirmou, porém, que o sistema de videovigilância será alargado apenas ao Cais do Sodré, não existindo de momento previsões de quando e quantas câmaras serão instaladas.
simoneta.vicente@sol.pt