Cameron e as sondagens

Eu diria que nem Cameron derrotou as sondagens, nem as sondagens iriam derrotar Cameron (apesar dos inquéritos que sobre isso estão anunciados em Londres). As sondagens são estudos estatísticos, que ajudam, entre outras coisas, a encarar as eleições, fazer ajustes de campanhas, e criar expectativas.

Pedro Magalhães, especialista português em estudos de opinião, disse na Antena 1, a propósito do resultado inesperado destas últimas eleições britânicas, que tinham constituído ‘a maior catástrofe’ pré-eleitoral de que ele tem memória. Talvez. Mas os desajustes entre as sondagens, e a opinião expressa nos votos, há muito que se detecta. O problema é saber completar um estudo de opinião tendo isso em conta (sobretudo se os desajustes se devem a causas do momento, não testadas em experiências anteriores.

Por exemplo: em Portugal, o CDS tem normalmente (quase sempre, ou mesmo sempre) resultados melhores do que as sondagens prevêem: é fácil concluir que as pessoas interrogadas, mesmo que tencionem votar no CDS, sobretudo em determinadas regiões, preferem não o admitir.

Também o PCP, a seguir à Revolução do 25 de Abril, a avaliar pelas sondagens, dominava o Alentejo a 100%, e o resto do país folgadamente. Concluía-se sem dúvida que algumas pessoas tinham receio de dizer que não votavam no PCP, mas realmente não iam votar lá.

Desta vez, os ingleses devem ter tido vergonha de dizer que votariam nos Conservadores. Provavelmente, temiam a subida do UKIP, por um lado, e uma aliança dos trabalhistas com os nacionalistas escoceses, por outro lado – e acabaram mesmo a votar nos Conservadores.

Os Conservadores embandeiram em arco, e lá aproveitarão para governar, agora sem os liberais os pressionarem. Será que os britânicos se vão arrepender? Será que ao menos a Europa não ganha em ter um líder, ironicamente um conservador, a fazer frente a Merkel e a Bruxelas?

Entretanto, as empresas de sondagens têm de se adaptar a estas idiossincrasias dos eleitores. Porque mesmo as sondagens à boca das urnas falharam bastante – embora menos do que as outras.