Miguel Angel Jimenez vem pelo bacalhau. Come uma, duas, três vezes… “Ele adora o meu bacalhau. Como num dia, e no seguinte vem ter comigo para repetir”, conta o ‘chef’ golfista do Oceânico Victória.
Os elogios sucedem-se. O reconhecimento do Tour também, e até o Guia Michelin já fez uma visita ao clubhouse. A ‘estrela’ é que não chegou porque, embora a comida merecesse, o facto do restaurante servir snack’s inviabilizou esse reconhecimento. “Fiquei satisfeito por saber que estiveram cá. Não tive a ‘estrela’, mas tive o prazer”, recorda, sentado na Tenda Vip do Portugal Masters deste ano, onde tinha acabado de servir um cocktail.
A semana do torneio é assim: chega cedo à cozinha, às quatro da manhã já lá está e, depois de tudo preparado, percorre as salas dos restaurantes e as tendas para sentir e ver se está tudo a correr bem. “Gosto de falar com as pessoas, de as ouvir, para melhorar o que for preciso”, explica o ‘chef’ que revolucionou a forma como os restaurantes de golfe trabalham. “Quando comecei, há 20 anos, os clubhouses só serviam sandes e snacks. Não abriam à noite. Eu transformei o conceito. Comecei a servir jantares, e as pessoas começaram a vir. Servimos reis, presidentes, rainhas e princesas, todo o género de pessoas.”
Esta ‘revolução’ aconteceu no Millennium, quando Bernardo Sousa Coutinho trabalhava com o empresário André Jordan. “Tive a sorte de trabalhar com ele. É claro que também o ajudei, e juntos mudamos vários conceitos. O Millennium era muito falado, e chegaram a vir ‘espiões’ da Michelin, conta o ‘chef’, que chegou a Portugal com 11 anos, vindo de Angola. Nasceu lá, mas as convulsões da altura trouxeram a família para Portugal. Primeiro, para Coimbra, depois para Cascais e sempre à volta das cozinhas. “Era o meu refúgio, desde miúdo. Em Angola tínhamos um cozinheiro, o João, e eu era a cobaia dele, experimentava coisas e inventava outras.”
Por isso, já com a entrada no curso de engenharia, parou, “sabia que não era aquilo que gostava, falei com a família, e entrei para a Escola Hoteleira do Estoril, ao mesmo tempo que começava a trabalhar no Hotel Palácio”. Nas férias, fazia sempre comida para a família e para os amigos. Depois, acabou o curso e foi viajar à procura de perspectivas diferentes, das dimensões e diferenças das cozinhas. Passou por restaurantes Michelin, por restaurantes de marinas, esteve na Bélgica, em França, regressou e voltou a sair. “Ainda hoje, quando vou de férias é também para aprender. As novas técnicas, as novas tendências: "Esta é a minha paixão”, garante.
Finalmente, há cerca de 20 anos aterrou no Algarve, primeiro no Vila Sol, depois para o Millennium e depois para o Victória, quando ele abriu. E sente-se bem! “A cozinha para o golfe é muito específica, mas eu adoro esta envolvência”.
Crédito: Octávio Passos
No que toca aos grandes torneios como o Portugal Masters garante que “os preparativos começam meses antes. Temos liberdade para criar, até porque o Tour gosta da diversidade e de apresentar a gastronomia típica de cada zona”, explica o ‘chef’ que é também golfista. “São as minhas duas paixões, e poder conciliá-las desta forma, é um sonho”, afirma, por isso retribui. O bacalhau feito especialmente para Jimenez, a diversidade de saladas e pastas que todos gostam e os queques de chocolate que fazem as delícias dos jogadores. “O Bourdy [Grégory] é louco por eles! Quando estive em Londres, há tempos, veio a correr perguntar se tinha levado queques, outros vieram abraçar-me, pensando que eu ia cozinhar lá…” São pequenas coisas que o ‘chef’ Bernardo guarda, como o carinho que sente por parte dos jogadores. “Eles são as estrelas, e devem sentir-se o melhor possível para jogar”, afirma, contando que por vezes alguns jogadores, que ficam em casas alugadas, pedem para eu fazer catering para eles. A outros, que vêm com a família, Bernardo oferece um ‘saquinho’ com doces para as crianças. A todos oferece um sorriso e boa comida. “Faz parte da nossa cultura saber receber bem, e isso cultura saber receber bem, e isso contribui para que eles voltem no ano seguinte.”
Artigo escrito por Márcio Berenguer, ao abrigo da parceria entre a Revista GOLFE Portugal & Islands com o Jornal SOL.