4º Campeonato Internacional Amador de Espanha de Stroke Play

O golfe feminino português está a viver um insólito duelo entre a tricampeã nacional amadora, Susana Ribeiro, e a bicampeã nacional de sub-16, Leonor Bessa, duas boas amigas, companheiras no Club de Golf de Miramar e na selecção nacional.

Em torneios nacionais, Susana Ribeiro está invencível em 2015, vivendo o seu melhor início de época de sempre, com triunfos nos dois torneios do Circuito Liberty Seguros e, sobretudo, no Campeonato Nacional Absoluto Peugeot.

Já em competições internacionais, é Leonor Bessa a cotar-se sistematicamente como a melhor portuguesa, mostrando que não foi por acaso que no ano passado conseguiu a melhor classificação de sempre de uma golfista lusa, no Ladies European Tour Access Series, com o 16º posto no Açores Ladies Open.

Na presente temporada, Leonor Bessa, de 16 anos, sagrou-se vice-campeã no Campeonato Nacional Argentino de Stroke Play (+11), foi 29ª (+16) no Campeonato Internacional Amador de Portugal e, agora, terminou no 28º lugar (+15) no 4º Campeonato Internacional Amador de Espanha de Stroke Play.

Há um ano, Susana Ribeiro alcançara o seu melhor resultado internacional de sempre neste mesmo evento, com um 15º posto no Panoramica Golf, Sports & Resort, em Castellón, mas a prova transferiu-se para o Torremirona Golf & Spa Resort em Navata, Girona, um campo que veio a revelar-se um grande obstáculo, impedindo novo top-15 português. Com efeito, Inês Barbosa foi 33º (+17) e Susana Ribeiro 44ª (+22). Joana Silveira e Beatriz Themudo falharam o cut.

«Esse não é, de todo, o meu objectivo, ser a melhor portuguesa. No fundo, somos todas uma equipa, lutamos todas pelo mesmo. O que quero é realizar-me e se fosse a pior portuguesa com 5 abaixo do Par não me importava nada», disse, claramente, Leonor Bessa, depois de ter agregado voltas de 79, 75 e 77.

Aliás, a jogadora que completa 17 anos em Agosto é sempre lúcida nas suas avaliações e não tem problemas em admitir que um top-30 entre 80 participantes ficou aquém do que vislumbrava: «Não era bem o meu objectivo. O que quero é cada vez mais chegar aos top-ten e ficar mais acima. Mas a qualidade do meu jogo não coincidiu com o meu resultado. Tive um jogo muito consistente, sobretudo na última volta, mas o resultado não saiu. Fiz muitos greens em regulação mas não consegui meter os putts. Fazia gravatas ou falhava a linha».

Por outro lado, sente que está aos poucos a superar o desaire que foi o Nacional amador, onde era uma das favoritas e acabou em 3º (+16): «Antes do Campeonato Nacional estava em boa forma, mas quando cheguei lá sofri uma baixa de forma e ainda não sei explicar bem porquê. Tentei corrigir alguns erros com o Nelson Ribeiro (treinador de Miramar). Acho que fiquei a bater melhor na bola e em termos de shots e de desempenho técnico estive melhor do que no Nacional, apesar de os resultados não o terem demonstrado. Não são afinações tanto em termos técnicos mas mais de confiança no gesto técnico. Às vezes estamos a executar bem mas não acreditamos. Ao não acreditarmos, alteramos algumas coisas e começamos a criar erros imaginários. Foi mais nessa parte da confiança que trabalhei com o Nelson».

Tiago Osório, o treinador do Centro Nacional de Formação de Golfe do Jamor que acompanhou a selecção nacional feminina nesta prova, pelo segundo ano consecutivo, explicou aquilo que o seleccionador nacional, Nuno Campino, tem dito muitas vezes, que um arranque complicado pode comprometer o resto do torneio: «No primeiro dia, com muito vento lateral, elas tiveram dificuldade em colocar a bola no fairway e assim andaram sempre atrás do prejuízo e ficou complicado estarem perto das bandeiras. No segundo dia jogaram muito melhor, embora tenham falhado muitos putts. No último dia a Leonor jogou bem mas falhou os putts importantes. A Inês teve uma volta muito inconstante com muito bons shots e outros menos bons. A Susana não se encontrou com o jogo durante todos os 18 buracos. No geral, foi uma participação positiva mas elas ficam com a sensação de que podem melhorar muito nos próximos torneios».

O tal vento lateral do primeiro dia, aliado às características do percurso asturiano complicou muito a tarefa de todas as jogadoras e veja-se como só três conseguiram bater o Par do campo aos 54 buracos: a suíça Albane Valenzuela (-4), que se torna na primeira estrangeira a vencer o torneio; e as francesas Eva Gilly e Lauralie Migneaux, empatadas em 2º (-1). Só houve 11 voltas abaixo do Par e a campeã foi a única a bater o Par todos os dias!

Porque razão tantas dificuldades? Susana Ribeiro explica: «Este campo é muito estreito, é estratégico, tinha muito vento e o outro, o do ano passado, não tinha nada disso. O do ano passado era largo, mais curto. Este campo tinha algumas elevações, com alguns buracos a subir e a descer. Era estreito não era só pelas árvores mas também pelo fora de limites. Eu que o diga porque fiquei a conhecê-los quase todos. O fora de limites é muito perto das árvores. Há campos que têm muitas árvores e o fora de limites fica longe. Os greens também eram muito ondulados, mais difíceis de patar, era difícil de avaliar, porque em alguns greens a bola descaía muito e noutros caía pouco».

Leonor Bessa, que era 35ª aos 18 buracos, 25ª aos 36 e 28ª aos 54, nem esteve nada mal do tee ao green, mas faltou-lhe o resto: «A principal dificuldade do campo era meter a bola em jogo, depois colocar bem a bola, eu até consegui o mais difícil, mas o que seria mais fácil não foi talvez concretizado».

Bem ao contrário de Susana Ribeiro, que iniciou a prova com um esperançoso 26º posto, subiu para 23ª e deu um valente tombo para 44ª, após voltas de 78, 75 e 85. No seu caso, com duas bolas perdidas na primeira volta e cinco na segunda, não foi no jogo curto ou nos putts que se perdeu: «No último dia foram essencialmente as pancadas de saída que falharam. Até acertei mais um fairway do que no dia anterior e fiz mais dez pancadas. Tive cinco bolas fora, duas delas com o segundo shot. É uma questão técnica. A bola estava a sair-me à esquerda e virava ainda mais à esquerda, é um erro. Não é um erro que tenho cometido ultimamente e mesmo nos outros dias falhei um shot ou outro, mas no último dia cada um desses penalizava-me bastante. Também andei a patar mal, mas, mesmo assim, estava confiante na partida para o último dia que se, pelo menos, conseguisse meter alguns putts – porque falhei muitos no segundo dia – talvez conseguisse jogar a Par do campo ou até mesmo abaixo. Mas faltou o resto».

Note-se que a jogadora de 24 anos voltou a ter o azar a bater-lhe à porta e pela terceira vez esta época competiu debilitada: «Fiquei doente no dia em que fui para Espanha, com uma gripe, nada de especial, mas constipada e com dores no corpo. Já fui ao otorrinolaringologista porque começa sempre pelas dores de garganta e ele diz que está tudo bem. Mandou-me só tomar uma vacina que eu não tinha tomado porque tinha alguns riscos de poder ficar doente e havia o Campeonato Nacional e este torneio, fiquei doente na mesma…».

Susana Ribeiro e Leonor Bessa são as duas jogadoras portuguesas com mais experiência internacional e, como salientou o jornalista Rodrigo Cordoeiro no site “Golftattoo”, não é por acaso que foram elas a passar o cut, tal como Inês Barbosa. Afinal, foram as três jogadoras que representaram Portugal no último Campeonato do Mundo, no ano passado, no Japão.

Inês Barbosa, a mais jovem das três, que só em janeiro completou 16 anos, está numa fase completamente diferente de afirmação de carreira mas nota-se que vai evoluindo aos poucos. Há um ano, num campo mais fácil, foi 43ª (+17) neste torneio. Desta feita, não começou bem, em 43ª (80), mas não se enervou e melhorou, passando para 33ª (76 e 77).

«No cômputo geral foi uma boa prestação, apesar de no primeiro dia não ter sido uma volta excelente e de nos dois últimos dias o resultado poder ter sido melhor se o putt tivesse coincidido com o resto do jogo. É natural ir melhorando os resultados porque já conhecia melhor o campo e fui capaz de jogar melhor», elucidou, antes de sublinhar a importância de ir competindo cada vez mais internacionalmente: «Tenho sido mais convocada, isso tem-me dado mais experiência em campo. O Campeonato do Mundo foi uma ótima oportunidade. Desde esse torneio tenho mais à vontade nos torneios e isso faz com que consiga mostrar mais o meu jogo em campo porque estou mais descontraída. O Campeonato do Mundo foi uma experiência única. Estavam lá, sem dúvida, as melhores jogadoras do Mundo e agora vejo que como já joguei com elas, já estive naquela posição, consigo agora estar mais solta. Como é óbvio, em qualquer torneio internacional sentimos mais alguma ansiedade e pressão, mas já encaro as coisas com mais naturalidade e, acima de tudo, com mais experiência e mais maturidade».

É exatamente essa experiência e maturidade competitiva que ainda não se pode exigir às duas portuguesas que falharam o cut: Joana Silveira, a campeã nacional de sub-14, pela sua juventude, e Beatriz Themudo, campeã nacional de sub-18 e vice-campeã nacional amadora, pela simples razão de poucas vezes ser convocada para a seleção nacional. Aliás, foi a única que esteve em Espanha a título individual. É note-se que qualquer uma delas melhorou do primeiro para o segundo dia.

Na Taça das Nações, Portugal ficou no 7º e último lugar, com 307 pancadas, após jornadas de 157 e 150, contando para o efeito os resultados de Susana Ribeiro e Leonor Bessa nos dois primeiros dias. Venceu a equipa principal de França com 282 (144+138).

 

Os resultados individuais das cinco portuguesas foram os seguintes:

28ª (empatada) Leonor Bessa, 231 (79+75+77), +15.

33ª (empatada) Inês Barbosa, 233 (80+76+77), +17.

44ª (empatada) Susana Ribeiro, 238 (78+75+85), +22.

63ª (empatada) Beatriz Themudo, 165 (87+78), +21 (falhou o cut).

65ª (empatada) Joana Silveira, 166 (87+79), 22 (falhou o cut).

 

Artigo escrito por Hugo Ribeiro, ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Semanário SOL.