Irish Amateur Open Championship

Tomás Bessa, de 18 anos, alcançou a sua melhor classificação de sempre em torneios internacionais amadores do escalão etário principal, ao terminar no 27º lugar o Irish Amateur Open Championship, com o bom resultado de 8 pancadas acima do Par ao cabo de 72 buracos no Royal Dublin Golf Club.

Vítor Lopes, que teria legítimas aspirações a lutar pelo título, desistiu antes de partir para a penúltima volta, lesionado no braço direito. A gravidade da lesão só será avaliada por exames médicos em Portugal.

A grande figura nacional acabou por ser Tomás Bessa, que, como conta o seleccionador nacional Nuno Campino, “chegou a liderar o torneio aos 27 buracos, com 3 pancadas abaixo do Par”, uma grande surpresa, tendo em conta que, como sublinha o próprio, “não jogava num campo de característicos links desde o British Boys em Royal Liverpool, há dois anos”.

O título foi atribuído ao irlandês Gavin Moynihan, com 284 pancadas, 4 abaixo do Par, após voltas de 69, 76, 65 e 74. Foi o seu segundo título na competição, repetindo o sucesso de 2012, batendo desta feita o seu compatriota Sharvin Cormac por 3 pancadas, sendo estes os únicos capazes de ficar abaixo do Par no final dos quatro dias, entre 120 participantes.

Na lista de campeões deste respeitável torneio surge um português, Pedro Figueiredo, neste mesmo campo, em 2008, um ano de ouro para o agora profissional a competir no Challenge Tour.

E quando Vítor Lopes e Tomás Bessa concluíram os primeiros 18 buracos no grupo dos 26º classificados, igualando o Par-72 do campo, a apenas 3 de um extenso conjunto de líderes, surgiram algumas esperanças de que novo brilharete poderia estar na calha e a verdade é que Tomás Bessa atingiu essa marca de -3 quando dobrou os primeiros 9 buracos da segunda volta. Mesmo assim, era 10º (Par) aos 36 buracos e estava a apenas 5 pancadas do comando. As duas voltas finais de 76 fizeram-no tombar para o 26º posto (+4) aos 54 buracos e para o 27º (+8) aos 72.

«O Tomás jogou bem durante toda a semana e só a falta de experiência internacional não o deixou ir mais longe. Mas quem o viu há um ou dois anos e o vê agora, está completamente diferente e os resultados falam por si», elogiou o selecionador nacional.

«Foi bom e foi o meu melhor resultado a este nível. Nos primeiros dias consegui jogar muito consistente, embora pudesse ter sido mais eficaz no putt. Nos dois últimos dias não estive assim tão bem e falhei alguns shots ao green para o lado errado, mas saiu satisfeito. Fui com objetivo de sentir-me realizado no final do torneio e saí com essa satisfação. Por outro lado, não jogo muitos torneios de quatro dias», disse o jogador que, este ano, só disputou o seu segundo torneio de 72 buracos, depois de ter sido 56º na Copa Real de Sotogrande (então com voltas de 90, 77, 80 e 76).

Bem mais experiente do que Tomás Bessa, Vítor Lopes recebeu a sua quarta convocação para torneios internacionais em 2015, depois do 12º lugar no Peru, dos oitavos de final no Campeonato Internacional Amador de Espanha e do 32º lugar em Sotogrande. Mas a sorte não o acompanhou como referido anteriormente.

«O Vítor jogou bem no primeiro dia mas no segundo, jogou à tarde e apanhou o pior tempo do torneio, com muita chuva e vento. Nesse mesmo dia, deu um shot do rough e magoou-se, pelo que não fez o terceiro dia de competição», explicou Nuno Campino.

«Senti-me a jogar bem e tive azar com aquele mau tempo. Troquei agora de putter, uma semana antes da competição e sinto-me mais confiante com ele. É da TaylorMade mas não é tão grande como o anterior, que se partiu e que não me dava um rolar de bola tão consistente, sobretudo nos putts mais longos. É o meu segundo putter este ano, porque também tinha trocado antes do Internacional de Portugal, da Nike para TaylorMade. Vamos lá ver se me ajuda porque, ao ser caddie do Tomás Bessa, percebi como os ingleses e os irlandeses jogam como nós, ou nós até jogamos um pouco melhor do que eles, mas depois, no jogo curto e no putt, eles metem 17 em 18 oportunidades e nós não conseguimos fazer isso. É nisso que precisamos de trabalhar no duro», afirmou Vítor Lopes.

O algarvio de 18 anos admite que poderia ter arriscado e jogado a terceira volta, para a qual iria partir na 91ª posição, tentando passar o cut reservado ao top-50, mas preferiu poupar-se: «Fiquei de rastos e aborrecido por não ter podido jogar, mas preferi não agravar a lesão para não arranjar nada de muito sério. Foi uma dor aguda, mas eu conseguiria jogar. Simplesmente, se voltasse a ir ao rough, poderia aleijar-me mesmo a sério».

O balanço geral de Nuno Campino foi afirmativo: «No ano passado ninguém se tinha qualificado para o último dia e este ano conseguimos colocar um jogador dentro do top-30. Não era esse o objectivo, porque as minhas expectativas são sempre mais altas, mas é positivo qualificarmo-nos, por ser uma etapa do percurso destes jogadores».

Para além dos propósitos meramente de classificação, o seleccionador nacional tinha outros alvos em mente: «Deveria ter trazido seis jogadores. Tinha planeado fazer um tipo de preparação com os jogadores que pudessem vir a jogar o Amateur Championship e o British Boys. O José Pedro Almeida também deveria ter viajado para fazermos algum trabalho físico. Mas, por causa dos handicaps, alguns jogadores não entraram e o Tomás Silva faltou por incompatibilidades com a universidade. Este torneio serviu também para eles ganharem rotinas com a chuva, o vento e o frio, e perceberem que roupa e que equipamento é preciso para este tipo de torneios. Esta semana foi boa para perceberem isso. Os nossos atletas estão habituados a sol mas nem sempre é assim».

A tal preparação para os campos links com que irão deparar nos Majors Amadores Britânicos foi bem conseguida, embora tenha sido mais importante para Tomás Bessa do que para Vítor Lopes. Afinal, como salientou o nº1 do Ranking Nacional BPI, «sinto-me confortável a jogar nos links, o meu voo de bola é acessível, é baixinho, como se viu no ano passado no British Boys».

Já o nortenho, que vinha de um 6º lugar no Nacional Amador, precisa de mais referências nestas condições de jogo, embora tenha confessado «adorar este campo». «Não tenho muita experiência neste tipo de campos, mas gosto, são desafiantes, pensa-se o campo de outra maneira, principalmente os shots ao green, porque os greens são mais duros, nos fairways a bola rola mais e como são muito ondulados é preciso ter atenção aos bunkers de fairway, são fundos e é muito penalizador ir lá parar».

Tomás Bessa sente as mesmas dificuldades de Ricardo Santos dez anos antes, quando via a sua longa distância travada pelos ventos britânicos: «É claro que nós que batemos na bola mais longe temos tendência para que ela voe mais alta, mas eu fiz um bom trabalho com o Nelson Ribeiro (treinador de Miramar) para dar mais esse tipo de shots, porque já sabia o que iria encontrar».

Igualmente importante foi a presença de Nuno Campino, que nos seus tempos de jogador era conhecido por saber dominar os elementos meteorológicos: «O Nuno Campino deu-me uma ajuda fundamental. Tem muita experiência e conhecia muito bem o campo. Nos links, o que o Nuno Campino quis fazer passar foi a ideia de que o buraco foi feito para se jogar de uma determinada maneira e quando se arrisca um pouco ou o shot sai perfeito ou pode ter-se azar e o buraco torna-se logo complicado. Posso beneficiar da minha distância jogando um taco mais curto. Houve poucas situações em que arrisquei, até porque com o vento que estava é muito difícil dar shots de full swing, tem que se jogar mais a controlar. Tenho de pensar de uma forma completamente diferente do que faço em Portugal e foi uma experiência muito boa».

Note-se que foi exactamente nestes links do Royal Dublin Golf Club, a celebrar 130 anos, que grandes nomes como Seve Ballesteros e Bernhard Langer se impuseram no Irish Open do European Tour. Como Rory McIlroy descobriu às suas custas, até finalmente ganhar o British Open, o jogador é que deve adaptar-se aos links e não o contrário.

 

Os resultados finais dos jogadores portugueses foram os seguintes:

27º (empatado) Tomás Bessa, 296 (72+72+76+76), +8.

117º Vítor Lopes, 156 (72+84), +12, desistência por lesão.

 

Artigo escrito por Hugo Ribeiro, ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Semanário SOL.