A dúvida foi esclarecida a propósito do papel lésbico vivido com a atriz Rooney Mara, no drama romântico Carol, de Todd Haynes, já dado como potencial candidato aos Óscares.
Pela entrega explícita, o filme motivou mesmo naturais comparações com o erotismo sem filtros de A Vida de Adèle, de Abdelatif Kechiche, vencedor da Palma de Ouro, em 2013. Ao contrário das jovens protagonistas A Vida de Adèle, Cate já foi mãe de três filhos (tem também uma filha adotada), mas mostra-se em grande forma e bastante à vontade nas cenas mais sensuais com Mara.
"Chamem-se antiquada, mas acho que o papel de um ator não é apresentar o seu universo aborrecido e microscópico", disse no seu encontro com a imprensa, acrescentando que "o papel do ator é criar a empatia psicológica e a experiência com outro ator, por forma a dar ao público algo mais que o nosso mundo".
A história de Carol é adaptada de um dos primeiros contos de Patricia Highsmith, O Preço do Sal, mais precisamente de 1952, quando escrevia ainda com o pseudónimo de Claire Morgan, onde se narra o episódio amoroso de uma mulher com uma jovem empregada de balcão um grande armazém na Nova Iorque dos anos 50.
A vencedora do Óscar de Melhor Atriz, em 2013, por Blue Jasmin, de Woody Allen, que já nos habituara à entrega total das personagens que vive com natural intensidade, explora agora esta relação velada e intensa de Carol com Therese Belivet (Rooney Mara), acentuada pela descrição exigida numa sociedade onde o conservadorismo americano atingia o seu pico.
A título de curiosidade, recorde-se que no sumptuoso Longe do Paraíso, de 2002, Todd Haynes já havia aflorado o romance proibido de uma mulher num ambiente de época semelhante, permitindo a Julianne Moore um dos melhores papéis da sua carreira. Ganhe ou não a Palma de Ouro, Carol deu-nos já uma das mais interpretações femininas mais intensas do festival.