Obsessão antiga
Todos os dias lemos notícias ou vemos anúncios que nos informam dos nossos deveres para viver melhor. Na televisão temos o apelo diário ao consumo de cálcio. Nos jornais multiplicam-se os artigos sobre a necessidade de dormir bem. Katharine A. Craik é autora de um texto publicado no site History Today que nos informa que não é uma obsessão moderna. No século XVII já havia médicos a recomendar soníferos e métodos naturais para dormir as sete a nove horas na altura recomendadas. Fatias de pão embebidas em vinagre e atadas aos pés era um dos métodos revolucionários que felizmente foram substituídos por comprimidos e chás. Outra recomendação que não mudou foi a de dormir durante a noite e estar acordado durante o dia. O luar, a falta de cortinas e a luz das velas eram inimigos do descanso, tal como são hoje os ecrãs luminosos dos smartphones e dos tablets. Ainda havemos de descobrir que os comprimidos de cálcio são como as fatias de pão em vinagre.
Lá fora é que é
As eleições no Reino Unido foram empolgantes. As sondagens foram um desastre e até agora não li nenhuma explicação razoável para tamanho engano. Graças ao sistema eleitoral inglês, o Partido Nacionalista Escocês (SNP) tem 56 deputados no Parlamento. Bem bom. Também graças ao mesmo bendito sistema, o UKIP só elegeu um deputado. Bem feita. Porém, os quase 13% de votos que conseguiu são motivo de preocupação. Mas felizmente não agora. Outra novidade interessante foi a deputada de 20 anos eleita pelos escoceses. O SNP tem em Mhairi Black uma espécie de Mariana Mortágua mais jovem, menos preparada, menos de esquerda mas igualmente intensa. Cameron nomeou sete mulheres para o governo, um pormenor que por si só não é garantia de nada mas eu gosto. Os líderes dos partidos que perderam vergonhosamente demitiram-se. Mais um pormenor que pode não servir para nada mas que só lhes fica bem. Sim, não é demais repetir que estas eleições foram de arromba.
Menstruação fracturante
No dia 23 de Março, uma aluna de origem indiana da Universidade de Waterloo, Rupi Kaur, colocou no instagram uma fotografia extraordinária de si própria deitada na cama com as calças do pijama sujas de sangue, bem como o lençol. A fotografia foi tirada pela irmã e fazia parte de uma série com o mesmo tema que a afligia há anos: as dores do período que suspendiam a sua vida durante uma semana. A fotografia circulou pelo Facebook e chamou a atenção da imprensa. Agora o Huffington Post entrevistou Rupi Kaur, de 22 anos, para tentar perceber quais eram os seus objectivos. As imagens faziam parte de um ensaio para a faculdade sobre as interpretações que temos da obra de arte consoante o sítio ou meio em que se encontra. A fotografia podia estar num museu, mas no instagram suscitou uma série de comentários de ódio e ameaças de morte (agora fazem-se ameaças de morte por tudo e por nada). Tudo por causa de uma mancha de sangue que não faz mal a ninguém.
Mil páginas
Li no Spectator que acaba de sair uma biografia sobre Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler, da autoria de Peter Longerich, um conceituado historiador alemão que escreve sobretudo sobre o Holocausto. A biografia tem quase mil páginas, o que é um feito. A extensão deve-se à utilização dos diários de Goebbels, uma intromissão do biografado na sua história que será sem dúvida esclarecedora acerca dos mecanismos do Terceiro Reich. Fiquei a saber que Goebbels escreveu muito e que se doutorou em Literatura, o que nos diz alguma coisa do sistema de ensino da altura. Fiquei também a saber que Goebbels teve uma paixão por uma actriz checa, que chegou a pôr em perigo o seu casamento com a célebre Magda Goebbels, uma Medeia do século XX, e que foi Hitler que impediu o divórcio. Esta mulher adorada pelo Führer mataria os seis filhos com cápsulas de cianeto por devoção a um regime de ódio no qual participou e que terminou há 70 anos.