"É uma situação antiga de um conjunto de colaboradores da empresa que estão em situação de inatividade já há longuíssimos meses, pelo que o que se vai fazer é formalizar uma situação que já tinha sido sinalizada no passado", disse à agência Lusa fonte oficial da Soares da Costa.
Segundo salientou, "é público que a empresa tem passado por uma situação com alguma complexidade, porque em Portugal não há negócio" no setor da construção, mas a nova administração — liderada por Joaquim Fitas, após renúncia de António Castro Henriques — está determinada a "dar um novo rumo à empresa".
"Estão a ser procurados novos negócios e uma nova carteira de clientes, para garantir o futuro, mas também a ser resolvidas situações pendentes que se arrastaram durante demasiado tempo", disse a fonte.
Contactado pela agência Lusa, o presidente do Sindicato da Construção — que, na terça-feira, esteve reunido com o presidente executivo da Soares da Costa – salientou ser defensor dos postos de trabalho, mas admitiu a complexidade da situação de inatividade dos 272 trabalhadores.
"Defendemos os postos de trabalho, mas nesta situação acho que a atitude da empresa até é louvável porque foi até ao limite e, se fosse outra, não teria aguentado tanto tempo", afirmou Albano Ribeiro.
Descrevendo a reunião que manteve na terça-feira com a administração da Soares da Costa como "a mais triste" que teve "enquanto sindicalista", o dirigente sindical diz ter "conhecido a empresa com 7.500 trabalhadores só na construção", quando atualmente estes não passam dos 800.
Recordando que a construtora "chegou a ter em simultâneo 100 obras em Portugal, mas hoje só tem três" (uma no Porto, outra em Coimbra e uma terceira em Lisboa), Albano Ribeiro admitiu que a manutenção dos trabalhadores em casa ter-se-á tornado insustentável.
"É uma situação que não é confortável para a empresa", disse, acrescentando que "foi pela falta de obras que se chegou a este ponto".
Segundo o dirigente sindical, a "maior crise de sempre" que atualmente afeta o setor da construção está também na base dos problemas que a Soares da Costa tem sentido ao nível do pagamento dos salários, quer em Portugal, quer em Angola.
"Em Angola chegou a haver três salários em atraso aos cerca de 400 trabalhadores, mas agora só há um mês", referiu.
Já em Portugal, continuou, o pagamento em atraso do mês de abril aos trabalhadores com salários até 500 euros "foi feito entre ontem [terça-feira] e hoje", enquanto os funcionários com salários acima dos 1.100 euros referentes ao mesmo mês "ainda não receberam", mas verão a situação regularizada "esta semana".
"O presidente executivo da Soares da Costa [Joaquim Fitas] disse-me que, em junho, esta situação vai ser ultrapassada porque a empresa está numa reestruturação profunda e a tomar medidas para ultrapassar os problemas", afirmou Albano Ribeiro.
De acordo com o sindicalista, o agravar da situação no setor da construção levou já a construtora portuguesa a encerrar as sucursais que possuía no Brasil e na Roménia, sendo o objetivo recuperar do passivo de 230 milhões de euros que somava em novembro de 2014.
Em ano de eleições, o presidente do Sindicato da Construção está convicto que "vão ser lançadas e retomadas várias obras" no país, quer na área do parque escolar e hospitalar, quer da reestruturação da via férrea e na rodovia.
"O primeiro-ministro vai fazer isto porque as obras dão muitos votos, mas o voto dos 150 mil [trabalhadores da construção] que deixaram de ter trabalho em Portugal ele não vai conseguir", sustentou.
Lusa/SOL