O perfil de Alberto encaixa no retrato do turista sénior traçado num estudo recente da Comissão Europeia. O inquérito realizado a viajantes com 65 ou mais anos em vários países mostrou que apreciam ir ao estrangeiro, embora também passeiem no seu país. A maioria diz gastar até 100 euros por dia, mas outros 38% desembolsam entre 101 e 300 euros. Quase 43% ficam fora entre quatro e sete noites e mais de 33% fazem estadias entre oito e 13 noites. Metade dos inquiridos gosta de organizar as viagens sem recorrer a agências. Valorizam a cultura e natureza, a saúde e bem-estar, gastronomia e vinhos, a segurança, boas acessibilidades e mobilidade.
Nos últimos anos, Portugal tem apostado na captação do público sénior para combater a sazonalidade. Através de programas de benefícios fiscais, tem tentado atrair reformados europeus a passarem vários meses em Portugal. O Algarve é o destino favorito, já que o clima é um argumento de peso nesta estratégia.
Mas também os portugueses acima dos 65 anos estão a viajar mais. Dentro e fora do país. “O perfil-tipo das pessoas que habitualmente viajam connosco, no Turismo Sénior, é do sexo feminino, casada, com 75 anos. Quanto à procura, a edição de 2015/2016 deste programa apresenta uma subida de 37%, quando comparada com a edição de 2014/2015”, detalha Fernando Ribeiro Mendes, presidente da Inatel, um dos principais operadores nesta área. u
Dos pacotes que organiza para este público, há actividades culturais, termais e de bem-estar. Da sua rede de hotéis, os de Albufeira e Oeiras são os mais concorridos. “Há grande procura de pacotes especiais e circuitos turísticos como o turismo de um dia, os temáticos ou as visitas a aldeias históricas. Salientamos o gosto dos nossos turistas seniores pelos cruzeiros, dentro de portas, nos rios Douro ou Tejo, ou em percursos internacionais. No estrangeiro privilegiam destinos clássicos, como Espanha ou Itália”, resume.
Comércio especializado
Bengalas com flores, telemóveis com teclas e números XXL e um botão de emergência, artefactos que ajudam a enfiar a linha na agulha, abre-frascos, cortadores de feijão verde. Estes são objectos pensados para o público idoso, que tem vindo a aumentar, ainda que não haja muitas lojas especializadas neste segmento.
A Loja do Avô surgiu em 2004, disponibilizando mais de 5.000 produtos e serviços específicos (apoio domiciliário, tele-assistência, fisioterapia) para a terceira idade. Já teve vários pontos de venda, mas agora dispõe apenas de uma loja e comercializa online. Foi “a inexistência em Portugal de respostas para a população sénior, que está em franco crescimento” que motivou Ana Garcia Pinto a lançar este conceito.
Atende sobretudo compradores seniores individuais e familiares. E no topo das vendas estão os artigos para a segurança no banho (cadeiras giratórias, tábuas de banho), para melhorar a independência pessoal (ajuda calça-meias, caixas de medicação semanal, andarilhos, canadianas, cadeiras de rodas), de higiene pessoal e um sofá que ajuda a levantar.
Ana Garcia Pinto acredita no potencial de crescimento do negócio, tendo em conta o envelhecimento da população. “A procura tem aumentado”, revela. E diz não haver muita concorrência. “Se entendermos por concorrência lojas que vendem os mesmos produtos, sim. Mas se falamos de conceitos globais virados para a população sénior, desconhecemos a sua existência em Portugal”.
Tanto por cá como noutros países, não há muitos conceitos de retalho dirigidos exclusivamente para os mais velhos. Por exemplo, nos supermercados, há uma secção de brinquedos e de artigos infantis, mas não há nenhuma virada para o público sénior. “O comércio não pode desprezar este segmento, mas tem de o inserir nos seus sortidos de produtos de uma forma harmoniosa, não descriminando ou não segmentando de maneira que possa ser considerada desvalorizadora”, justifica José António Rousseau, ex-director da Associação das Empresas de Distribuição e actual presidente do Fórum do Consumo.
“Hoje, uma pessoa de 65 anos é sénior no BI. Mas não se sente velha e os comportamentos de compra continuam a ser de pessoas mais jovens. Se pensarmos numa pessoa de 85 anos, já é diferente. Por razões de saúde e até de mobilidade, já não têm as mesmas características de consumo. Consomem menos”, analisa. Daí que, na sua opinião, não faça sentido ter secções específicas, mas sim aumentar a oferta, incluindo produtos com menos sal, açúcar e gorduras ou serviços que ajudem quem já tem pouca mobilidade, como transportar compras ou levá-las a casa.
Residências assistidas
Na Domus Vida, um empreendimento de residências assistidas do grupo José de Mello na Junqueira, Lisboa, a residente mais velha tem 103 anos. Todas as quartas-feiras se diverte nas sessões de dança, onde às vezes, a filha, de 70 anos, também participa. Está nestas residências para ficar, uma opção que cada vez mais idosos seguem. Preferem não estar sozinhos e tirar partido dos serviços que as residências oferecem: acompanhamento médico permanente, alimentação, limpeza das instalações e actividades. Normalmente, estes projectos têm piscina, ginásio, biblioteca, jardins, capela, salas de leitura, cabeleireiro. E fazem sessões de leitura, cinema, bingo, tai-chi, pintura.
“Passa a ser a casa destas pessoas. Podem convidar quem quiserem. Não temos nenhuma limitação de entrada, nem de horas. Podem convidar amigos e familiares”, explica Julian Ulecia. O presidente da administração da José de Mello Residências e Serviços explica que também há utentes que apenas ficam temporariamente e outros que procuram estas casas para recuperação e reabilitação. Alguns chegam com total independência, mas também há os que têm dependências físicas ou demências. As residências da Junqueira, com 97 camas em quartos individuais e duplos, existem há 11 anos. “Surgiram devido à nossa visão de que o aumento da longevidade e da esperança média de vida e de que as necessidades das populações mais idosas iam crescer em Portugal. É complementar à nossa área da saúde”, acrescenta, rejeitando que estes serviços se destinem apenas à classe alta. Com ocupação entre 85% e 90%, há mensalidades a partir de 1.950 euros ou diárias desde 92 euros.
Também o grupo Luz Saúde tem investido neste mercado. Em 2003 abriu o Clube de Repouso Casa dos Leões, em Carnaxide. E, em 2009, inaugurou as Casas da Cidade, junto ao Hospital da Luz, em Lisboa, disponibilizando tipologias entre T0 e T2. “O mercado privado de residências sénior tem um potencial de crescimento limitado, sobretudo por questões económicas, agravadas pela crise. Os clientes estrangeiros são uma hipótese de crescimento”, relata Miguel Carmona, administrador desta área de negócio. Ainda assim, em Carnaxide a ocupação ronda os 85%, com mensalidades desde 1.365 euros para ficar num apartamento de forma vitalícia (a que acresce um valor de admissão que varia entre 23 mil e 161 mil euros) e de 2.125 euros para as estadias temporárias.
Já a Visabeira optou por entrar neste mercado há um ano, quando, em parceria com a Misericórdia de Azeitão, abriu o Porto Salus, pensado para as pessoas com mais de 65, e localizado junto ao hospital Nossa Senhora da Arrábida, usufruindo dos seus serviços médicos.
“Constatámos que, apesar de em Portugal esta faixa da população estar a atingir uma dimensão muito relevante, não existe no mercado um número correspondente de empresas realmente especializadas na resposta ao envelhecimento”, explica o responsável, Jorge Costa. Com 120 unidades de alojamento, ficar num quarto duplo tem um custo mensal a partir de 1.400 euros. “Uma percentagem considerável dos nossos clientes são professores e funcionários públicos já aposentados”, nota. Setenta por cento ficam com carácter permanente.