Esse aviso de sexo explícito já havia sido dado quando o próprio comunicou que estava a preparar “um filme porno de três horas e em 3D”. Apesar de se ter ficado pelas duas horas e um quarto, foi o suficiente para Love ter sido relegado para a secção das Sessões da Meia Noite, em vez obter espaço na Seleção Oficial. Não fosse a decisão de tornar explícito todo o sexo – que é muito – e provavelmente estaria no concurso para a Palma de Ouro.
Noé concretiza assim um desejo antigo. Na verdade, uma ideia que é mesmo anterior a Irreversível. Durante as entrevistas de promoção desse filme, aqui mesmo em Cannes, em 2002, o próprio nos confessara em entrevista que tinha sugerido o tema a Vincent Cassel e a Monica Bellucci, que acabaram por não aceitar.
Incapaz de encontrar atores conhecidos capazes de concretizar tal demanda, Gaspard Noé teve de se servir de atores desconhecidos. Mas que acabam por cumprir o seu papel com eficácia.
Karl Glusman e Ayomi Muyock investem-se nos papéis do casal Murphy e Electra. Eles estão apaixonados e encaram o sexo com abertura. Por isso, após um momento de desinibição com a vizinha Omi (Klara Kristin), envolvem-se numa longa cena de sexo em grupo. De resto, a própria narrativa visa apenas cumprir um fio discreto para alimentar a evolução de uma relação romântica, desde a descoberta inicial, a experimentação até se tornar destrutiva.
Ao longo desse percurso, o realizador deita por terra qualquer tipo de tabu relativamente à forma como o sexo é mostrado no cinema. Nada é simulado e tudo é mostrado. A única diferença é que no género pornográfico a concentração é no ato em si, ao passo que em Love o sexo faz apenas parte da relação afetiva. Mesmo sem ser uma obra-prima – muitos jornalistas apuparam o filme – ficamos satisfeitos por saber que Love existe.