Claque implicada no confronto do Marquês

A Polícia já tinha referenciados quase todos os adeptos do Benfica que foram detidos no domingo após  os confrontos ocorridos na  festa organizada pelo clube no Marquês de Pombal, em Lisboa.

Dos 13 detidos, só um não tem antecedentes criminais e dois já estiveram envolvidos em episódios de violência desportiva (como a posse de engenhos pirotécnicos). Segundo adiantou ao SOL fonte oficial da Direcção Nacional da PSP, pelo menos dois estão ligados aos No Name Boys, uma das duas claques não legalizadas do clube. O mais novo tem 16 anos e o mais velho 23. 

Tudo terá começado com uma pequena rixa entre um grupo de adeptos nas imediações do Parque Eduardo VII, que rapidamente alastrou à praça do Marquês e que a Polícia, desprevenida, não conseguiu conter. 

A PSP já analisou as imagens televisivas, mas ainda não apurou o motivo das investidas nem se existiu um plano concertado entre os adeptos que atacaram os agentes. Embora não estabeleçam uma relação de causa-efeito, os investigadores admitem que estes actos possam ter surgido em reacção à agressão de um adepto em Guimarães, horas antes, por um oficial da PSP. 

É que os dois ecrãs gigantes colocados no Marquês difundiram, a certa altura, as imagens da  CMTV que captaram aquela agressão. “Sobre essa matéria – e da nossa parte – já foi dito tudo o que havia a dizer. Não vamos alimentar esta novela”, disse ao SOL João Gabriel, director de comunicação do Benfica. 

A verdade é que, apesar de ter dado um parecer negativo ao modelo dos festejos e à localização do palco, a Polícia terá subestimado a ameaça inerente ao evento e foi surpreendida pelas investidas de um grupo de adeptos. Atingidos com pedras, garrafas e engenhos pirotécnicos, um número inédito de agentes – 16 – acabou por sofrer ferimentos graves, pois estavam completamente desprotegidos: sem capacetes (nem à cintura), escudos e equipamento anti-traumático (para peito e costas). Os polícias que estavam na primeira linha de intervenção, junto à rotunda, tiveram de recuar até às carrinhas para se equiparem e só depois voltaram ao terreno. 

Isto foi o resultado directo de uma ordem que partiu não se sabe se do comandante do Corpo de Intervenção, Fernando Pinto, ou do comandante da Unidade Especial de Polícia, Constantino Ramos. O objectivo terá sido evitar uma imagem demasiado ostensiva. 

“Vamos pedir uma reunião ao comandante do CI para perceber  por que razão foi dada esta ordem. Há agentes com lesões sérias na cabeça e nas costas”, disse ao SOL Paulo Rodrigues, presidente do maior sindicato da PSP, criticando um procedimento que diz não ser habitual. “Ainda por cima quando se previa a presença de milhares de pessoas e o consumo de álcool como factor agravante”, sublinha o dirigente. 

A PSP, por seu lado, garante que, apesar de não se tratar de um jogo mas de “um festejo aberto ao público”, “a possibilidade de ocorrerem incidentes foi devidamente avaliada”. 

O Comando de Lisboa tinha, aliás, emitido um parecer negativo à organização que a Câmara defendia, sobretudo quanto à localização do palco na rotunda, por colocar dificuldades acrescidas à actuação táctica dos agentes, e à criação de um perímetro de segurança em caso de confrontos. “Seria mais fácil agir numa zona rectilínea do que numa circunferência, em que podemos ser atacados de vários ângulos e ficar cercados”, explica fonte policial. A alternativa sugerida pela Polícia para o centro da festa seria o enfiamento do Parque Eduardo VII, tal como aconteceu no ano passado, quando o clube também festejou o título. 

A venda de álcool em garrafas de vidro também era motivo de preocupação. Tudo isso foi transmitido ao vereador Carlos Castro, com o pelouro da Protecção Civil da autarquia, e ao representante do Benfica. Mas a Câmara não acatou nenhuma das recomendações (nem mesmo a de o animador da festa ler as mensagens de segurança previamente combinadas com a PSP) e acabou por levar por diante a sua decisão. 

O presidente da Câmara, Fernando Medina, afastou quaisquer responsabilidades, alegando que o “fenómeno” que aconteceu na Praça do Marquês “nada teve a ver com o dispositivo definido”. 

Polícia disparou balas de borracha 

Nos próximos 30 dias, a Inspecção-geral da Administração Interna vai investigar a actuação dos agentes em Lisboa.

Durante a reposição da ordem, a PSP teve de carregar sobre os desordeiros na avenida Fontes Pereira de Melo e também na Duque de Loulé. Pelo meio, admite a Direcção Nacional, houve necessidade de disparar balas de borracha. 

Imagens captadas por fotojornalistas e vídeos que circulam entretanto pelas redes sociais podem ser comprometedores para a PSP: há agentes a arremessar garrafas de vidro contra adeptos e outros a fazer gestos provocadores e obscenos. 

*com Rui Antunes

sonia.graca@sol.pt