José Manuel Costa, diretor da Cinemateca Portuguesa, presente na sala, definiu Visita como “um verdadeiro filme testamento”. Recorde-se que este documento esteve guardado nos cofres da Cinemateca, sob indicação do autor, para apenas ser exibido após a sua morte. Apenas em duas ocasiões muito particulares foi exibido, segundo explicou José Manuel Costa, para membros da equipa e numa ocasião na Cinemateca.
Este é um filme de sussurros, de fantasmas, de memórias, mas também de confissões. No caso, os ecos que habitavam a casa onde viveu quarenta anos depois de casar com a mulher Maria Isabel, e que se viu forçado a vender “para pagar dívidas”. Sublime o texto que Agustina Bessa-Luís escreveu para ele e que Diogo Dória, com a sua habitual verve, e Teresa Madruga, visitam como se fossem fantasmas.
No entanto este é o filme mais presente de Oliveira, já que a sua voz começa por se substituir ao genérico e à ficha técnica e é ele mesmo que serve de anfitrião numa confissão em que se reconhece muito do seu cinema e da sua vida, ao fim e ao cabo, parte da mesma coisa.
"Oliveira fez tudo em Cannes", elogiou também ThieryFremaux, o delegado geral do festival de Cannes. Teve filmes em várias secções, foi homenageado e recebeu a Palma de Ouro em 2008, a poucos meses de completar 100 anos.
De referir que Manoel de Oliveira já contava 73 anos quando realizou esta Visita e apenas seis filmes. Mas haveria ainda de fazer vinte e quatro filmes, muitos deles produzidos por Paulo Branco, que também esteve presente na sala.
Nesta plateia de notáveis, figurava ainda o casal Erika e Ulrich Gregor, os responsáveis pela apresentação do cinema de Oliveira ao mundo. Em conversa com o Sol,Ulrich recordou quando estava em Paris para selecionar filmes para o Fórum, da Berlinale, e soube que havia um filme de 4 horas e meia de um tal português.
Curioso, acabou por o ir ver, acrescentando o episódio engraçado: “Eu estava numa sala de projeção perto do Arco do Triunfo e tive de o ir buscar a outra sala perto dos Inválidos. E fiquei surpreendido quando me entregaram um saco com as latas que eu próprio trouxe”. O filme, claro, chamava-se Amor de Perdição. No ano seguinte, haveriam de fazer uma retrospetiva integral da sua obra até à altura que acabou por desencadear um interesse global. Por isso mesmo, fazemos coro com as palavras de José Manuel Costa: “Viva Manoel de Oliveira!”