É uma cerimónia que gosto sempre muito de ver porque, efectivamente, celebra o talento português. Ali, juntam-se grandes talentos das artes, do desporto e outras áreas relativamente meritosas mas que, todos juntos, representam apenas 10% da plateia. A restante percentagem comunga toda de um outro talento, esse sim incrivelmente meritoso: o de conseguir marcar presença em tudo o que seja evento de chuchar uns croquetes à borla e almejar ser capa de revista sem que algum dia ter feito uma única coisa de relevante para o mundo. É de louvar, até porque ainda são muitos que o conseguem.
Outra coisa de que gosto muito nesta cerimónia, e que acho representativa de uma celebração bem à portuguesa do nosso talento, é a manutenção do nível de medianismo. De ano para ano, a cerimónia é cada vez melhor, mais ousada, ao nível de manter o medianismo. Eu sei que parece paradoxal, mas veja-se como, por exemplo, ano após ano se repete a apresentadora. Isto não é mais que ousar em melhorar, mas com base na repetição e não na inovação. Não é como os meninos dos Óscares ou dos Globos de Ouro americanos que mudam de apresentador constantemente e depois arriscam-se a ter apresentadores com graça, cáusticos e que conseguem pôr talentos mundiais a rir-se de si próprios. E isto está completamente errado, como é óbvio. O que seria de nós, intrépidos e orgulhosos portugueses, se fôssemos rir de nós mesmos numa cerimónia tão séria como os Globos? Impensável. Nunca! O que vale mesmo a pena, e ficará para sempre na nossa memória, é a Babá Guimarães a descer numa nave espacial sobre o palco a cantar Lady Gaga. Isso sim, é uma coisa bonita, que o povo gosta de ver e que não é nada ridículo. No fundo, imitámos uma cerimónia estrangeira – com a melhor das intenções – mas conseguimos fazer uma versão superior ao manter o conservadorismo bacoco, e até pacóvio, tão tipicamente português. O que importa é não ferir susceptibilidades.
Não faço ideia de quem foram os vencedores da noite, mas espero que tenham sido realmente os talentos que tentam fazer mais e melhor, todos os dias. Mesmo que seja irónico serem homenageados por isso numa cerimónia que prima pelo oposto.
Se eu estiver completamente enganado, baseando-me nas edições anteriores, e este ano tiver sido incrível, as minhas desculpas a todos os intervenientes. Para o ano há mais.