Agora, Seymour M. Hersh, na London Review of Books, vem dizer que as coisas não se passaram assim. E o novo relato dos últimos anos do chefe da al-Qaeda e das condições da sua morte voltou a fazer primeiras páginas da grande imprensa mundial.
Muitos se lembrarão das reportagens que mostravam a tensão vivida no inner circle da Casa Branca, com Obama, Hillary Clinton e os maiorais do Governo a seguirem a operação da morte de bin Laden como se dos últimos minutos de uma finalíssima desportiva se tratasse. Ou de versões ficcionadas, como o filme Zero Dark Thirty de Kathryn Bigelow, onde depois de uma longa investigação e perseguição, a CIA, no rasto dos 'correios' do emir, descobre o seu esconderijo nas imediações da capital do Paquistão, em Abbottabad, numa vivenda isolada, perto da Academia Militar. A partir daí, decide-se a operação e o Presidente Obama dá o 'Go' final.
Para Hersh, o jornalista que revelou casos célebres, como o massacre de My Lai no Vietname por tropas americanas, e o escândalo das prisões de Abu Ghraib, (mas que também trouxe histórias suspeitas como a da 'ligação' da Opus Dei e da Ordem de Malta às Special Forces) não foi nada disto que se passou.
Osama foi de facto morto pelo Team 6 dos SEALs na noite de Maio de 2012, mas estava na casa de Abbottabad há seis anos, com pleno conhecimento da Inter-Services Intelligence paquistanesa (ISI).
A CIA foi informada da sua presença em Abbottabad por um agente da 'secreta' paquistanesa que se dirigiu à embaixada dos Estados Unidos em Islamabad para receber o prémio – 25 milhões de dólares – pela cabeça do fugitivo.
Os responsáveis militares e da ISI souberam previamente da operação e negociaram-na com os americanos.
Bin Laden estava já muito doente, pelo que não se defendeu.
E, finalmente, que o seu cadáver não foi lançado ao mar, mas despenhado algures, pelas montanhas da Ásia.
Hersh começa por sublinhar «que a morte de Osama foi o ponto alto do primeiro mandato de Obama e um factor importante na sua reeleição», insinuando que toda esta encenação e montagem foram feitas com fins políticos. A polémica está aberta nos Estados Unidos, viva e brutal, com apoiantes e contraditores de Hersh batendo-se nos ringues das grandes cadeias de televisão. O ex-director adjunto da CIA, Mike Morell, desmente terminantemente Hersh, desvalorizando as suas fontes e argumentando que são anónimas e dois dos SEAL participantes na operação revelaram pormenores que contradizem a versão de Hersh.
Como todas as teorias revisionistas e da conspiração, esta terá que ser provada e passar o crivo da factualidade. Mas quem poderá arbitrar o debate?
E porque nem sempre a verdade resulta da exposição contraditória das 'verdades', bem-vindos a mais um 'mistério' americano na era da transparência e dos reality shows.