O esquema, segundo a acusação do DIAP de Viseu a que o SOL teve acesso, passou pela falsificação das escalas do chamado dispositivo especial de combate a incêndios florestais, que prevê remunerações para os bombeiros envolvidos no combate aos fogo. Entre 2006 e 2012, a corporação recebeu verbas da Autoridade Nacional de Protecção Civil para pagar aos operacionais que estavam escalados. Só que nem todos os nomes que estavam nas escalas correspondiam a homens efectivamente presentes no quartel, o que permitiu à corporação desviar cerca de 30 mil euros: nos mapas financeiros as verbas foram registadas como sendo destinadas à «associação», o que, segundo a perícia financeira efectuada, indica que o dinheiro não foi usado para pagar aos operacionais.
O esquema, segundo a acusação, foi posto em prática pelos comandantes Acácio Fonseca e Augusto Martinho, que elaboravam as escalas e pelo presidente Domingos Frias, a quem cabia validar os recibos. Os arguidos, que não quiseram prestar esclarecimentos ao SOL, são acusados de burla qualificada, peculato e falsificação de documentos, e começam a ser julgados a 16 de Junho. Vão também responder pela cobrança indevida de 16 mil euros ao Ministério da Saúde, por transporte de doentes. Segundo a acusação, durante sete anos este pagou duas vezes o mesmo transporte feito pela corporação de Vila Nova de Paiva. Para o conseguir, os bombeiros, que são accionados através do INEM, recebiam um prémio de saída, a que acrescentavam a facturação, aos hospitais, do transporte desses mesmos doentes.
Todos os anos, quando acaba o período de combate aos fogos, os bombeiros apresentam despesas extraordinárias: só em 2013, estas atingiram os 14 milhões de euros. Por isso, na apresentação do dispositivo para o distrito de Viseu, há duas semanas, o segundo comandante nacional da Protecção Civil, Joaquim Almeida, alertou as corporações para a emissão de uma directiva financeira e exigiu rigor nas contas.