O talentoso Mr. Eaves

O Pine Cliffs Resort promove este fim-de-semana a 5.º edição do seu ‘Cooking Through Generations’. Um evento que junta este ano o chefe britânico com uma estrela Michelin, Marcus Eaves, e o chefe Manel Lino, à frente do restaurante Tabik em Lisboa. Eaves deu o pontapé de saída, num jantar limitado a 50 pessoas que…

Tinha 15 anos, quando mergulhou pela primeira vez numa aventura gastronómica. Marcus Eaves – hoje chefe com uma estrela Michelin no seu restaurante londrino, L'Autre Pied – pegou no livro de sobremesas dos chefes franceses Michel e Albert Roux e decidiu fazer uma sobremesa à base de pêssegos e framboesas. “Era tipo um Pêssego Melba. A questão é que eu não tinha nada do que era preciso em casa. Por isso, e como os meus pais estavam fora, fui à mercearia do bairro com a ideia: ‘claro que consigo fazer isto!’”. Não conseguiu. A mercearia não tinha os ingredientes que eram necessários e tanto improvisou que “não só não consegui fazer o Pêssego Melba, como quando os meus pais chegaram a casa, a cozinha estava transformada num campo de batalha. Resultado: fiquei de castigo. Mas entretanto, aquilo foi determinante por que percebi que era preciso ser muito rigoroso e exigente, ter muita disciplina”, desabafa.

Mas na noite passada, à mesa da quinta edição Cooking Through Generations (esgotada), no Pine Cliffs Resort, em Albufeira, com um menu que foi do ‘caranguejo com pêssego, espargos, ervilhas e hortelã’ ao ‘lombo de novilho com cogumelos selvagens e vinho da Madeira, não esquecendo o cheesecake de fava tonka com morangos’, o evento do Pêssego Melba estava totalmente ultrapassado, embora ainda lhe arranque um sorriso quando o relembra. O que não é por acaso. Apenas um ano depois desse incidente culinário, regressou aos fogões numa competição culinária com um ravioli de escargot com alho, salsa, vinho tinto, “uma receita muito clássica aos estilo francês”. A oportunidade surgiu no restaurante onde trabalhava “primeiro a lavar pratos e só depois a tentar aprender alguma coisa”. E foi aí que pensou que talvez ser chefe não fosse nada mau. “Na verdade, eu queria ser arquitecto, mas não tinha notas para isso, portanto ser chefe estava ao meu alcance e era algo que me agradava bastante. Tinha 16 anos, ganhava 2,50 libras (cerca de 3,50€) à hora, achava que era um fortuna, e tinha a minha independência”.

Cerca de 10 anos depois, aos 27, apenas 14 meses depois de ter aberto o seu  L'Autre Pied, em 2007, levava para casa a tão cobiçada estrela do universo Michelin. Mas não se deixa deslumbrar por ela, reconhece a responsabilidade, que agora leva “de uma forma menos stressada do que no início”. Tanto assim é que permite-se ter tempo para estar em casa a cozinhar para os amigos. “Mas nem sempre foi assim, houve uma fase que só fazia coisas muito simples tipo beans on toast, o que é uma vergonha, mas agora mudámos de casa e como temos uma cozinha espectacular faço imensas coisas e convido os amigos para irem lá”. Outra opção e pegar nesses mesmos amigos e levá-los ao restaurante Polpo, “gosto imenso de ir aí jantar, é do género de tapas, mas mais à italiana”. Se não o encontrar em nenhum destes dois locais, é ir bater à porta do L'Autre Pied, no conceituado bairro Marylebone, em Londres. É aí que continua sediada a base de todas as suas criações.

patricia.cintra@sol.pt