Só reúne quem pode, não reúne quem quer. Porque reunir significa estar algures acima de quem não reúne, porque na reunião, lá está, decide-se, o que faz de quem não reúne um pobre diabo que só acata ordens. Por isso reunir, minha gente, é acima de tudo uma questão de estatuto: quanto mais se reúne, maior importância se tem. Em todo o lado. Quer no seio da empresa ou junto do grupo de amigos. Reunir é uma outra forma de estar na vida.
Tendo em conta que, pessoa que se preze, tem entre três a quatro reuniões por dia, estima-se que essa mesma pessoa tenha cerca de 60 reuniões por mês, o que significa que anualmente esse mesmo sujeito estará presente em cerca de sete centenas de reuniões, descontando já à partida as férias e o Verão. A conta certa para isto seriam 720 reuniões por ano. O que me parece serem imensas reuniões.
Mas que sumo retira o sujeito aqui evocado (nenhum em particular) dessas sete centenas de reuniões anuais que não tiraria de um par de emails ou até mesmo de um telefonema? Recentemente, e porque vejo tanta gente enleada em semanas que são novelos de reuniões, pus-me a pensar sobre o tempo que cada trabalhador investe nelas. Fiz assim algumas contas e reflexões, tirei umas notas, e percebi que uma reunião é, de facto, uma coisa importantíssima ao nível da resistência.
É tanto melhor quem consegue estar nestas reuniões todas e sair ileso, do que qualquer outra pessoa. Isto porque o debate conclusivo é cada vez menos fácil de encetar. À objectividade retira-se todo o mérito, porque a duração de uma reunião é directamente proporcional à sua importância, daí que reunir meia-hora seria ultrajante para qualquer trabalhador a quem foi dada a importância de reunir para depois reportar ao patrão. Ou ao chefe. Mas normalmente quem trabalha para um chefe tem o cenário um bocadinho pior e estou certa de que precisa sempre de reunir pelo menos uma hora e meia por reunião. Já quem reúne e reporta ao patrão, consegue fixar a barra na horinha.
Uma das partes mais importantes das reuniões hoje em dia, é aquela em que alguém aparece com os emails com o rodapé 'amigo do ambiente' todos impressos e com as passagens importantes sublinhadas com marcadores flúor, para conseguir referir datas e acordos (tudo o que está escrito, escrito está e é legalmente válido) que possam vir a ser importantes trazer para a sala de reuniões. É naturalmente essencial trazer estes assuntos bem estudados para apanhar seja quem for na curva, caso seja necessário. E é igualmente ou até talvez ainda mais importante apontar tudo aquilo que foi dito em reunião para compilar então a acta do nosso tempo, o email de sintetização e o resumo dos trabalhos até à próxima reunião, onde os resultados obtidos após a reunião anterior, e já partilhados no thread de emails encetado nesse seguimento, são apresentados ao vivo. Parece confuso? É só o procedimento habitual.
Reunir é um jogo desafiante. Implica uma boa dose de moderação nos variadíssimos campos da ficção laboral, um estudo aprofundado dos milhares de emails trocados desde o início do assunto em questão. Implica um aguçado sentido de oportunidade e uma capacidade de resistência enorme. Uma simples ida à casa de banho ou uma consulta ao telemóvel a meio de uma reunião pode ter consequências nefastas para o futuro dos trabalhos.
O reunidor deve ser, acima de tudo, alguém acordado, atento, calmo, não muito impositivo, sorridente, concordante e ordeiro. Deve ser organizado, saber fazer apresentações em PDF ou PowerPoint e, sobretudo, deve dominar a ligação entre o computador e o projector, perante os olhos atentos de quem lá está. Nunca deve beber água para não ter de ir à casa de banho e não deve nunca pegar no telemóvel. O reunidor ideal não fuma.
E tu, achas que sabes reunir?
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