Maçonaria: Património abre guerra no GOL

A venda de três imóveis de instituições controladas pela maçonaria e que valem 2,5 milhões de euros está a dividir os maçons.  

A venda de património do Grande Oriente Lusitano (GOL) está a gerar polémica entre os maçons. Em causa está a alienação de três imóveis em Lisboa, avaliados em 2, 5 milhões de euros e que pertencem ao Internato de São João, uma Instituição particular de Solidariedade Social (IPSS) controlada pela maçonaria.

A confusão instalou-se depois de os maçons que dirigem o Internato, e também o GOL, terem anunciado que pretendem vender parte do acervo imobiliário para lançar uma unidade de cuidados continuados e uma residência para a terceira idade num terreno da IPSS, na zona de Chelas.

Alguns membros não concordam com a forma como o processo está a ser conduzido e exigem que qualquer alienação seja aprovada pelo parlamento do GOL, a Grande Dieta. Na última reunião sobre o assunto, que decorreu na sede do Internato de São João, a 15 de Maio, os ânimos exaltaram-se e os maçons obrigaram a direcção a recuar. «Apenas se aceitou que negociassem a venda e não se fizesse qualquer negócio», explicou ao SOL um dos presentes no encontro, onde ficou acordado que os responsáveis não podem fazer qualquer contrato-promessa sem autorização daquele órgão maçónico.

A questão promete aumentar o clima de tensão entre as duas facções. Um dos maçons que contesta a venda é Francisco Teixeira, um professor do ensino secundário pertencente à loja Lusíadas Renascida, de Guimarães, que já apresentou um projecto-lei interno para tornar explicitamente obrigatório que qualquer iniciativa sobre o património tenha de ser antecedida de debate e autorização vinculativa da Grande Dieta. «É que as opiniões divergem: uns acham que a Grande Dieta só tem de aprovar no fim, outros consideram que qualquer iniciativa tem de ter, antes de tudo, concordância deste órgão», refere outro maçon.

Já a facção que está a promover a venda alega que o órgão maçónico apenas tem competência moral e não legal. «Se um dos prédios do Internato cair e ferir alguém, a entidade que é responsabilizada perante a lei é a IPSS e não a Dieta», nota fonte do GOL.

Degradação justifica venda

Em cima da mesa estão três dos imóveis do Internato. O mais valioso situa-se na Praça da Figueira e o valor-base para negociação foi fixado em um milhão e 700 mil  euros. Tem uma área bruta construída de 1.575 m2 e seis pisos, a contar com o rés-do-chão. Integra 11 habitações, das quais quatro estão devolutas, e quatro lojas. O arrendamento permite um rendimento mensal de 3.109 euros por mês – o que, de acordo com vários membros do GOL, representa 70% dos proveitos de todo o património do Internato de São João. «Por isso, qualquer venda tem de ser bem pensada», defendem.

Além disso, o facto de este prédio se situar na mesma zona de um outro que também está à venda e que pertence à IPSS Inválidos do Comércio (cuja direcção é composta por maçons do GOL) está a gerar mal-estar. Isto porque alguns membros do GOL têm lançado suspeitas de que as duas transacções estão interligadas, uma vez que há maçons nos órgãos dirigentes das duas IPSS.

Na lista dos imóveis a vender em Lisboa, está ainda um prédio na Lapa (com seis fogos, dos quais dois devolutos) que gera um rendimento mensal de 508 euros. Por fim, no lote a ser alienado encontra-se também um imóvel na Rua dos Castelinhos, em Arroios, que tem quatro das suas cinco habitações devolutas. A única habitável rende 55 euros por mês.

A degradação do património é, aliás, um dos argumentos apresentados pelos membros da direcção para se avançar com a venda. Entretanto, apurou o SOL, foi agendada para dia 20 de Junho uma reunião extraordinária do parlamento maçónico, onde se irá debater o assunto.