O Programa de geometria variável do PS

António Costa fez das múltiplas propostas do PS um Programa Eleitoral de geometria variável, um conjunto de compromissos sempre inacabado e em mudança. Com medidas para todos os gostos e feitios, que têm a particularidade de serem ajustáveis, reversíveis, até descartáveis – e que, no fim, «só ficam no Programa se passarem no crivo dos…

O líder do PS promete «devolver salários aos funcionários públicos, eliminar a sobretaxa de IRS, reduzir a TSU». Isso não pode afectar a sustentabilidade da Segurança Social? Bem, admite Costa, «chamaram a atenção para problemas que essa medida tem», mas, garante logo de seguida, «no quadro intemporal ela assegura o equilíbrio, e quanto ao imediato não há problema». Assunto arrumado.

E a redução do horário de trabalho para 35 horas não implicará um aumento da despesa? Bom, esclarece Costa, «o volume da massa salarial é uma questão de gestão. Você pode dizer: em vez de admitir quatro pessoas, admito três e mantenho o regime das 35 horas». Fácil. E engenhoso, como se vê.

Com tudo isto, mais a redução do IVA da restauração, a promessa de não cortar nas pensões ou de aumentar fortemente o investimento público, o país não corre o risco, com um Governo PS, de entrar de novo no perigoso caminho do défice excessivo e do desequilíbrio externo – como alerta o relatório do Conselho de Finanças Públicas? Não, desdramatiza Costa, «o que o relatório diz é que as medidas de procura interna, só por si, são obviamente insuficientes – e ninguém pensa o contrário». Esclarecedor.

Ao mesmo tempo, António Costa veio apresentar a tese – em que só mesmo ele acredita – de que, sem uma maioria do PS nas legislativas, «o Presidente da República irá arrastar em agonia a actual coligação, em Governo de gestão, até Fevereiro ou Abril do próximo ano». Costa está farto de saber que Cavaco Silva não tem margem de manobra para impor uma tal insensatez política. 

Mas agita esse fantasma absurdo para tentar forçar uma maioria absoluta de votos que lhe vai escapando entre os dedos a cada dia que passa. Com promessas a rodo e ameaças tontas, como estas, é que não vai lá. 

jal@sol.pt