Tinha razão na sua previsão, o ex-primeiro-ministro Felipe González, que duas semanas antes das eleições falara numa 'italianização' do leque político espanhol. Com o PP, o PSOE, o Podemos e os Ciudadanos, passa a haver quatro partidos, com prováveis votações entre 15 e 25% que podem dividir o eleitorado e a sua representação, a partir das próximas eleições parlamentares.
Independentemente das negociações e arranjos a que estes resultados vão obrigar, levantam o problema da governabilidade e da dificuldade, para os partidos que continuam a ser os maiores (o PP com 27% e o PSOE com 25%), de se abrirem a coligações com os seus rivais próximos ou do 'mesmo lado' para poderem governar.
Para a esquerda do PSOE existe um território onde, além da Esquerda Unida e das várias etiquetas identificadas ou aliadas com o Podemos, militam parte dos separatismos catalão, basco e galego e outros grupos e grupúsculos com denominadores ideológicos populistas e radicais. A todos estes – e ao Podemos – será difícil engolir as políticas de austeridade, prudência e bom decoro económico-social preconizadas pela comunidade financeira europeia e mundial e aceites pelos partidos do mainstream.
Se, cedendo à tentação de ganhar o poder comunitário e autárquico, o PSOE estender alianças à esquerda, poderá com elas governar talvez seis das treze comunidades em disputa. Mas como será depois? Como irá o PSOE, cúmplice e aliado do Podemos no poder local, separar-se dele nas eleições parlamentares? Os sucessos do populismo de esquerda em Madrid e Barcelona, com Manuela Carmena e Ada Colau, serão testes interessantes.
E não se pode esquecer que, como comentava um editorialista do ABC, «na rota marcada por Pablo Iglesias (o líder do Podemos) está a absorção de todo o eleitorado do PSOE». Como estava a absorção do eleitorado da Esquerda Unida.
Ao fim e ao cabo, o que o líder do Podemos quer é federar a esquerda espanhola num só Bloco. E, até agora, não pode dizer-se que não lhe tenha corrido bem a pretensão.
Por seu turno, no dia seguinte à eleição, vozes dos 'barões' do PP, criticavam Rajoy e pediam cabeças e um congresso extraordinário.