‘Nada parece ter sido investigado no Santa Maria’

Miguel Oliveira e Silva, o ex-director clínico do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que abandonou o cargo em Fevereiro, após denunciar alegados conluios e falta de transparência em alguns serviços, diz que o polémico estudo da Fundação Soares dos Santos ­ sobre a instituição – que fala de ligações à maçonaria, ao Opus Dei…

“Pode ser que o estudo obrigue a que a situação seja mesmo investigada. Isto porque até agora nada do que relatei parece ter sido investigado, apesar de terem dito em Fevereiro que o iam fazer”, diz o médico, referindo-se às denúncias que fez, em Dezembro de 2014, de que o material clínico para doenças cardiovasculares (endopróteses aórticas), próteses para o coração (válvulas aórticas percutâneas) e material ortopédico (próteses e material osteo sintético) estavam a ser adquiridos “sem caderno de encargos”. Admitindo que o estudo da Fundação vem de certa forma dar força ao seu alerta de que “há situações por explicar”, o médico lembra que a ausência de cadernos de encargos propicia o “poder pessoal exagerado de alguém”. 

Oliveira e Silva aproveita para explicar que estas irregularidades lhe foram “denunciadas pelos responsáveis da central de compras” do hospital e que, apesar de graves, estão ainda por apurar. Segundo o antigo director clínico, apesar de ter sido divulgado que a situação foi encaminhada para a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), o Tribunal de Contas e a Inspecção-Geral de Finanças (IGF), está tudo “por explicar, como em Fevereiro”, quando se demitiu (cinco meses depois de ter sido nomeado).

“Todas as questões, sem excepção, que foram suscitadas pelo professor Miguel Oliveira da Silva, bem como o conteúdo das suas afirmações em entrevista a um jornal diário, foram atempadamente analisadas pelo Conselho de Administração e endereçadas às entidades competentes”, respondeu ao SOL o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (que inclui o Santa Maria). Carlos Martins garante ainda que a actuação da Administração tem sido “pautada, neste tipo de situações, pelo rigor e celeridade, promovendo a abertura de processos internos de inquérito, de averiguações ou disciplinares e de auditorias internas ou externas”. E garante que, neste como em outros casos, foi pedida a intervenção de entidades externas, como a Procuradoria-Geral da República, o Tribunal de Contas, a IGAS e a IGF.

catarina.guerreiro@sol.pt