‘40% das camas do Algarve estão em Albufeira’

Prestes a arrancar o Verão, os portugueses preparam-se para as férias dentro e fora do país. Hotéis algarvios estão com um aumento de procura superior a dois dígitos. Desvalorização do euro face a outras moedas está a trazer mais turistas europeus, como os britânicos.  

Escolhe Albufeira como destino de férias, opta por Julho ou Agosto para as férias de Verão e paga, em média, 110 euros por cada pernoita. Este é o perfil médio do turista português, traçado num estudo de tendências do portal Trivago. A uma semana do início do Verão, as famílias preparam-se já para rumar para sul, mas não estarão sozinhas. Com a desvalorização do euro face a moedas como a libra, o Algarve prepara-se para uma romaria de britânicos e de outros turistas europeus.

Depois de Albufeira, o estudo do Trivago mostra que outras zonas do Algarve estão no topo da preferência dos turistas nacionais: Portimão, Monte Gordo, Vilamoura e Praia da Rocha.

Estas conclusões – que têm por base todas as pesquisas efectuadas nas 50 plataformas internacionais do portal, entre 1 de Fevereiro e 11 de Maio de 2015 – não surpreendem Elidérico Viegas, o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). «Quarenta por cento das camas do Algarve estão em Albufeira», nota o responsável, que espera um aumento da procura na região na casa dos dois dígitos.

Câmbio ajuda
Até final de Abril, a procura total tinha aumentado 16%. Entre os portugueses, a subida era de 21,8% e, no caso dos estrangeiros, de 12%: uma disparidade que se explica pelos números conseguidos na Páscoa – as mini-férias tipicamente lusas -, mas que deve esbater-se no Verão, sem baixar da casa dos dois dígitos.

«Temos um crescimento na taxa de ocupação em relação ao ano anterior, essencialmente devido à maior procura nos meses laterais. Isto resulta da descida do euro face ao dólar e à libra, o que faz aumentar a vinda de turistas do Reino Unido e do mercado interno, porque os portugueses acabam por ser desviados de destinos cotados em dólares, que se tornaram mais caros», explicou Elidérico Viegas ao SOL.

Por meses laterais entende-se Maio, Junho, Setembro e Outubro, e é o incremento nesses meses que faz a diferença. Isto porque em Julho e Agosto, mesmo em períodos de crise, os «hotéis estão sempre esgotados». «O mercado de praia é nacional, desde sempre», frisa. Os destinos oscilam pouco: Monte Gordo é mais procurado pelas famílias, Tavira tem revelado «potencial de crescimento» e a zona de Lagos e Sagres está quase exclusivamente orientada para a época alta.

O turista português no Algarve também não regista grandes alterações de hábitos em relação às semanas favoritas para fazer férias. O estudo do Trivago nota que a semana mais popular é a terceira de Agosto (17 a 23), com 23% das preferências, seguida de perto pelas duas semanas anteriores, com percentagens entre 15% e 20% de chegadas.

Porém, o presidente da AHETA detecta uma tendência para uma maior antecedência na reserva, para além da opção por períodos tipicamente menos concorridos. Tal pode explicar-se pelo aumento dos preços: 4,8%, em média, desde o início do ano.

Mais estrangeiros
Com a chegada da época alta, Elidérico Viegas prevê que, tal como em anos anteriores, se façam manchetes sobre um Algarve a rebentar pelas costuras. Contudo, alerta para estatísticas enganadoras, devido ao facto de muitos alojamentos locais, que não eram contabilizados na oferta, terem entrado no circuito de casas turísticas. «Os números anunciados não correspondem à entrada de turistas no aeroporto, nos hotéis ou nos empreendimentos. Este discurso optimista é muito importante mas, em período eleitoral, quem pode exagera os sucessos e a oposição faz o contrário», alerta. O dado que mais entusiasma o responsável é mesmo o da recuperação dos preços, essencial para fazer elevar o volume de negócios.

Aliás, as empresas continuam «ainda longe da situação ideal», que seria uma taxa de ocupação média anual de 65%, dentro do que era conseguido antes de 2008. A taxa de ocupação em 2015 deve continuar a subida progressiva dos últimos dois anos, prevendo-se que atinja 59%. Em 2012 esse número foi de 53% e em 2013 de 57,2%, pelo que tem existido uma recuperação «sustentada», de cerca de dois pontos percentuais por ano. «Ainda estamos a três ou quatro anos de atingir a taxa de ocupação antes da crise, que é indispensável para a rentabilidade das empresas».

Em relação aos turistas estrangeiros no Algarve – Espanha é vista como «mercado interno alargado» e não é tida nestas contas -, a AHETA destaca a subida da procura no mercado irlandês: mais 10% nos quatro primeiros meses do ano, face ao período homólogo. A crescer está também a procura na Alemanha e na Holanda, respectivamente o segundo e terceiro maiores mercados fora de portas, atrás do Reino Unido.

Olhando para todo o país, o Trivago adianta que 40% dos estrangeiros que têm procurado Portugal como destino para Julho e Agosto são espanhóis. Seguem-se irlandeses, franceses, britânicos e alemães.

Muito se falou sobre a eventual importância da Primavera Árabe na subida de turistas no Algarve, que concorre com destinos como Tunísia ou Marrocos. Na opinião de Elidérico Viegas, a instabilidade que se instalou a partir de 2011 pode ainda estar a produzir efeitos positivos, mas terá sido uma «oportunidade perdida»: «Pouco fizemos para trazer mais fluxos desviados desses países. Outros destinos, como Espanha, trabalharam muito melhor».