A dois dias da realização do Congresso eleitoral para designação do novo presidente da FIFA, o mundo despertou com a notícia da detenção de sete dirigentes e um total de 14 suspeitos da prática de diversos crimes de corrupção (José Maria Marin, Jeffrey Webb, Costas Takkas, Jack Warner Eduardo Li, Julio Rocha, Eugenio Figueredo Rafael Esquivel Nicolás Leoz, Alejandro Burzaco, Aaron Davidson, Hugo e Mariano Jankis e José Margulies).
Entre os referidos 14 suspeitos identificados nove exercem ou exerceram funções na FIFA, e alguns ainda desempenham cargos bem importantes nesta estrutura.
A investigação imposta pela Procuradora-Geral americana Loretta Lynch, alega que os suspeitos terão cometido vários crimes desde 1991, entre eles: extorsão, fraude, o “pagamento sistemático de subornos” e lavagem de dinheiro. E, por via destes atos, os implicados terão recebido, no total, cerca de 137 milhões de euros.
Os dirigentes da FIFA terão pretensamente aceitado subornos de empresas de marketing desportivo para, em troca, lhes concederem direitos comerciais e televisivos de competições organizadas pela entidade. Esses direitos eram relativos a jogos de várias provas: fases de qualificação da CONCACAF (a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e das Caraíbas), a Gold Cup, a Copa América, a Copa dos Libertadores, a Copa do Brasil, a Liga dos Campeões da CONCACAF e o processo de candidaturas à organização de algumas fases finais dos Mundiais, entre os quais o de 2018 na Rússia e 2022 no Qatar.
Porém, a verdade é que, mesmo sob este tenebroso escândalo a pairar sobre o Congresso de Zurique, Joseph Blatter viu o seu adversário Ali bin Al Hussein desistir da segunda volta das eleições para a presidência da FIFA, e assim acabou eleito para cumprir mais um mandato de quatro anos à frente do organismo.
Ora, quatro dias depois da eleição para responsável máximo da FIFA até 2019, Joseph Blatter não resistiu à pressão imposta pelo avanço das investigações do Departamento da Justiça dos Estados Unidos e às sucessivas e ultra polémicas denúncias de Chuck Blazer – antigo secretário-geral da CONCACAF de 1990 a 2011 e membro do Comité Executivo da FIFA de 1997 a Abril de 2013 -, e renunciou ao cargo no passado dia 2 de Junho, em conferência de imprensa em Zurique.
Na altura, Domenico Scala, membro do Comité de Auditoria da FIFA, afirmo: “Novas eleições serão convocadas pelo Comitê Executivo da FIFA e devem acontecer entre Dezembro de 2015 e Março de 2016 num novo congresso extraordinário da entidade”.
Parecia que tinha chegado ao fim a ‘dinastia Blatter’, que lidera a FIFA desde 1998.
Porém, duas semanas depois de ter anunciado que vai deixar a presidência da FIFA e de abrir caminho a eleições no organismo que gere o futebol mundial, segundo o Diário Suíço Schweiz am Sonntag Joseph Blatter estará a repensar a decisão e pondera dar o dito por não dito, após ter recebido manifestações de apoio por parte das confederações africana e asiática.
Esta notícia foi corroborada por Klaus Stoehlker, que assessorou Blatter durante a recente campanha eleitoral, uma vez que em comentários à Sky News refere que o presidente da FIFA poderia permanecer no cargo se " não surgir um candidato convincente" para o substituir.
Este volte-face poderá explicar a saída de Walter de Gregorio da direcção do departamento de Comunicação da FIFA, considerando que Blatter deveria mesmo abandonar o cargo e dar lugar a uma mudança de orientação na organização.
Não há dúvidas que a renúncia de Joseph Blatter à Presidência da FIFA não foi uma decisão espontânea e de livre vontade, mas evidencia a gravidade e repercussões imprevisíveis da investigação em curso pelo Departamento da Justiça Americano.
Não tenho dúvidas também que o actual Presidente da FIFA, até à realização de novas eleições no organismo, irá repensar inúmeras vezes no acto de renúncia forçada que praticou, mas só abandonará o cargo quando constatar que nenhuma tábua de salvação poderá ser utilizada na perpetuação de um lugar em que ainda crê manter total legitimidade.
O poder inebria aquele que dele usufrui e, quanto maior é o poder, maior é o abuso.