Lady’s Golf – A rapariga da bicicleta

Manuela Aranha, hoje com 83 anos, sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Desde muito cedo a quebrar estereótipos – numa época em que a função das mulheres se resumia às tarefas de casa – Manuela Aranha, era uma desportista nata. 

Desde jovem jogou ténis ao nível nacional, jogou ‘ping-pong’, fez tiro ao alvo de arco e flecha, fez patinagem, jogou hóquei em patins, nadou, mergulhou, praticou caça submarina e foi a primeira mulher a fazer a Travessia Lazareto-Pontinha. E ainda tinha como meio de transporte uma bicicleta de fabrico-sueco que lhe valeu a alcunha d’ ‘a rapariga da bicicleta’. A família tinha um barco que ela ainda conserva, ao lado da bicicleta sueca. Nos dias de Verão descia o Cais do Carvão, na Pontinha, metia-se na canoa e remava sózinha até à Barreirinha onde ia mergulhar “com a malta amiga”.

Ao nível profissional também quebrou estereótipos ao assumir cargos de responsabilidade social – desenvolvendo actividades viradas para a juventude -, e ao assumir cargos políticos, chegando a Diretora Regional da Madeira dos Assuntos Culturais. E porque também era escultora e uma artista de méritos reconhecidos, formada pela Faculdade de Belas Artes do Porto, não deixou os créditos por mãos alheias.

No meio de uma agenda muito preenchida conseguiu encontrar tempo para a escultura. Esculpiu alguns dos bustos e estátuas que estão na Ilha da Madeira e outras obras espalhadas por outros pontos do país. Ainda teve o privilégio de executar uma moeda de 25 escudos feita especialmente para uma edição de coleccionadores. E durante 20 anos – até ao ano 2000 – idealizou e criou as afamadas iluminações de Natal da cidade do Funchal.

O último estereótipo que quebrou foi quando decidiu aprender a jogar golfe aos 72 anos. Tudo começou com uma brincadeira de férias no Porto Santo, com uns tacos e um terreno que fazia as vezes de um ‘driving range’. “Fiquei tão entusiasmada que dois meses depois já era sócia do Palheiro Golf. Abandonei totalmente o ténis como desporto e virei-me para o golfe”, disse Manuela Aranha, explicando que o golfe tem que “entrar nos poros”, mas tem que ser jogado “com um certo estilo”. Foi um grande desafio mas “empenhei-me em tentar fazer o meu melhor e até já ganhei alguns troféus”.

Mas o grande legado desta incursão no golfe, para além da diversão que acompanha Manuela Aranha em todas as actividades que desenvolve, é o neto. A influência de Manuela Aranha foi tal que os filhos e o neto começaram a jogar golfe também. O neto, Filipe Biscoito, licenciado em Desporto, é agora o responsável pela Academia de Golfe da Quinta da Barca, em Esposende, onde está a desenvolver actividades várias e a promover a modalidade.

Manuela Aranha confidenciou que teve uma infância muito feliz, que as actividades desportivas e ao ar livre lhe traziam muita diversão, que ao nível profissional nunca fez nada por obrigação e, no final, acrescentou que no conjunto “são coisas engraçadas que dão vida à vida”.

Artigo escrito por Sara Moura ao abrigo da parceria entre a Revista GOLFE Portugal & Islands com o Jornal SOL.