Portugueses rendem-se às libras de ouro

Banca reforça aposta na venda de moedas de ouro. Receio com a evolução da economia e falta de aplicações de poupança apelativas estão a levar mais famílias a investir nestes produtos.

Há cada vez mais portugueses a comprar libras de ouro, enquanto as barras do metal precioso estão a perder adeptos. Uma moeda da Rainha Isabel II de 2015 custa cerca de 300 euros e os principais bancos portugueses têm reforçado a oferta para responder ao aumento da procura por parte dos clientes.

Além do interesse dos coleccionadores, a numismática seduz os portugueses receosos com a evolução da economia, os desanimados com a remuneração de soluções de poupança mais tradicionais e os que estão confiantes na recuperação do valor do metal dourado.

De acordo com as informações obtidas pelo SOL junto das grandes instituições bancárias nacionais, a procura de libras esterlinas cresceu em 2014 face a 2013. Este ano as encomendas estão a subir cerca de 25%.

«O volume de vendas nos primeiros cinco meses deste ano foi superior face ao mesmo período do ano passado, com um pico de procura por altura da Páscoa», revela fonte oficial da Caixa Geral de Depósitos.

De Janeiro a Maio, o banco estatal obteve receitas superiores a 66 mil euros, correspondente a 230 libras de ouro vendidas. Ou seja, uma média de 2,2 libras por cada dia útil. «Este valor é superior ao atingido em 2014, de 53.260 euros para 159 libras», acrescenta.

Opções para todas as carteiras

O sector identifica três tipos de compradores de libras: os coleccionadores/numismatas, os clientes que compram para oferecer e os que adquirem para reserva de valor ou investimento.

A Páscoa, o Verão e o Natal são os períodos que registam maior procura. O Millennium BCP, por exemplo, lançou uma campanha na Páscoa: «Troque os ovos por ouro», seduzindo os clientes com o «valor intemporal» do metal. Embora não divulgue os volumes vendidos, a instituição de Nuno Amado reconhece uma quebra de cerca de 60% na procura por barras de ouro, enquanto as vendas de libras estão estáveis.

Enquanto a avaliação das barras de ouro é mais objectiva porque depende directamente da cotação internacional do metal precioso, o preço das moedas e das peças de ourivesaria tem em conta a raridade, a qualidade e a condição do objecto. Actualmente, existem opções de libras em ouro para todas as carteiras. Os bancos até vendem meias libras.

O Santander Totta também confirma um aumento da comercialização de libras, mas caracteriza a procura ainda como «residual».

Em contraciclo, o Montepio regista um decréscimo este ano, mas há uma explicação. «As moedas de colecção são as mais procuradas. Contudo, este ano tem sido atípico porque as séries anuais, que normalmente são as primeiras a serem comercializadas, só serão distribuídas em Setembro», contextualiza fonte oficial do Montepio.

Por norma, as instituições têm em ‘stock’ as moedas mais procuradas para fazer face às encomendas diárias, o que não invalida que a entrega de alguns produtos possa demorar quatro dias úteis. De acordo com a legislação em vigor, as moedas são isentas de IVA e os bancos não cobram qualquer comissão.

Para as instituições contactadas, não pode afirmar-se que as libras de ouro estão a competir com outras aplicações, mas poderá estar em causa o início de uma tendência de aumento do peso das moedas na poupança dos clientes. Para os aforradores com perfil conservador, os depósitos a prazo estão pouco atractivos. No primeiro trimestre do ano, a taxa de juro média não foi além de 1,07%, o que compara com 1,89% no mesmo período de 2014.

Crises popularizam ouro

Historicamente, as crises aumentam o apetite pelo ouro, diminuindo o interesse dos investidores por classes de risco, como obrigações ou acções. «Registou-se um aumento substancial na procura por particulares após o início da crise financeira internacional. Registámos uma procura extraordinária também com a crise bancária no Chipre em Abril e Maio de 2013», confirma fonte oficial do BCP.

Depois de 12 anos a escalar, o preço do metal dourado perdeu valor em 2013 e 2014. Desde o máximo histórico de 44,35 euros por grama em Outubro de 2012, o preço recuou para os actuais 33,9 euros, de acordo com a informação do Banco de Portugal.

«Para maximizarem a imunidade às crises, os aforradores compram ouro físico tornando-se independentes do sistema financeiro», explica a Proteste Investe no último dossiê sobre o tema. As opções mais comuns são as barras (cujos pesos mais comuns no retalho começam em um grama e vão até ao quilograma), as moedas (entre as quais as libras esterlinas e os krugerrands sul-africanos são as mais populares) ou peças de ourivesaria (essencialmente medalhas e jóias).

A Associação de Defesa do Consumidor recorda que o ouro é um dos activos mais imunes às variações dos preços dos bens, mas deixa um alerta: «O grande problema do ouro é não gerar rendimento, apenas pode dar mais-valias aos investidores através da subida do preço». O ouro não oferece garantia de capital e, tal como as acções, o seu valor flutua todos os dias no mercado. A DECO chega mesmo a desaconselhar o investimento aurífero.

sandra.a.simoes@sol.pt