Basicamente, se dois ou três autocarros fizerem uma rota circular numa cidade, partindo em tempos diferentes para dar margem, seguem o percurso normalmente com a mesma distância entre eles, e com um número semelhante de passageiros a entrar e a sair nas paragens. No entanto, se um deles tiver um atraso, seja por ‘azar’ nos semáforos, trânsito compacto, um carro em segunda-fila ou mesmo um pequeno acidente, a rota vai alterar-se toda.
O autocarro que se atrasa acaba por demorar mais tempo a chegar à paragem seguinte e esse atraso, mesmo que de pouco tempo, acaba por levar a uma aproximação dos outros autocarros do mesmo trajecto. É uma inevitabilidade matemática.
Por outro lado, quanto maior o atraso, maior é o número de pessoas a chegarem à paragem. Esse autocarro vai demorar mais tempo a receber passageiros e mais tempo também a ‘largá-los’ nas outras paragens. Quanto aos outros autocarros, se tinham ganho algum tempo com o atraso do primeiro, vão ganhar ainda mais pois chegam às paragens e há menos pessoas à espera para entrar.
Em cima de tudo isto está o facto de muitas pessoas, quando vêem dois ou três autocarros, procuram na mesma entrar no primeiro, para chegar mais cedo. Isso leva a que o círculo vicioso se continue a perpetuar até ao fim da rota, onde podem voltar a partir com intervalos de tempo controlados. Quanto maior é o percurso e o número de autocarros a fazê-lo, maior é também a probabilidade de a dada altura se acumularem dois ou mais deles.
Lewis Lehe, que está a fazer um doutoramento em Engenharia dos Transportes, tem um site em conjunto com o web designer Victor Powell, o Setosa. Os dois criam animações, ilustrações animadas e pequenos jogos para explicar situações do dia-a-dia, principalmente relacionadas com o trânsito, ou conceitos matemáticos.
O ‘jogo dos autocarros’ – que na verdade é mais uma simulação, não dá pontos – é simples: uma pista que faz lembrar os jogos de vídeo dos anos 80, dois autocarros e quatro paragens. Os dois autocarros estão separados exactamente por metade do percurso e mantêm essa distância. Podemos clicar num botão para cada um deles, atrasando-o, e depois ver o que mais cedo acaba por acontecer. O ‘atrasado’ é apanhado pelo outro, e transporta sempre mais passageiros.
Noutra simulação do site Setosa são explicadas as ‘ondas de tráfego’. E também quase todos já passámos por isso. É o que acontece quando de repente temos de parar o carro porque o trânsito está parado, mas passados alguns segundos de pára-arranca volta a fluir normalmente, sem uma explicação: nada de acidentes, obstáculos ou engarrafamentos.
A explicação também é simples. Numa situação de trânsito compacto, mas fluido, se um carro abrandar de repente, o de trás tem um tempo de reacção mais lento e trava com mais intensidade, e por aí fora, espalhando-se até por outras faixas. O resultado pode mesmo ser uma situação de travagem total a dada altura, que provoca maior demora no retomar da velocidade e dá sensação de engarrafamento ou acidente.