Gestor japonês perde metade do ordenado devido à ‘crise’ dos airbags

Já há muito se falava na falta de comunicação por parte da japonesa Takata, no caso que levou à recolha de dezenas de milhões de carros devido a problemas graves nos airbags. No entanto, na altura de reconhecer os erros, foi com a tradicional humildade japonesa que a administração da empresa fez as suas desculpas.

Numa conferência de imprensa da Takata esta quinta-feira, em Tóquio, o CEO Shigehisa Takada (ao centro na foto), o vice-presidente Hiroshi Shimizu e o CFO Yoichiro Nomura curvaram-se, numa vénia acentuada, perante a assistência composta maioritariamente por jornalistas. Pretendiam fazer um pedido de desculpas público pela crise de segurança que levou já à recolha de mais de 34 milhões automóveis em todo o mundo.

Esse tremendo número de veículos com possível defeito – quase metade das vendas de automóveis em todo o mundo num ano e mais do que as vendas nos EUA e na China, de longe os maiores mercados globais – causou já acima de 100 acidentes, uma centena de feridos e oito mortos, do que se sabe até agora. As vítimas, envolvidas em acidentes ligeiros ou pequenos toques, foram atingidas por pedaços de metal ou plástico afiados, em resultado da explosão do airbag, fabricado pela Takata.

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Os airbags defeituosos estão presentes principalmente em automóveis da Honda e da Toyota, mas General Motors, BMW, Chrysler, Ford, Mazda, Mitsubishi, Nissan e Subaru são outros fabricantes com modelos afectados também. Todas as marcas lançaram já vários pedidos de recolhas para substituir o airbag, estando mesmo algumas delas a ‘vasculhar’ sucatas e centros de peças, para garantir que estes não chegam ao mercado por essa via.

“Queremos fazer um pedido de desculpas sincero por toda a preocupação e incómodo que causámos às pessoas”, afirmou Shigehisa Takada na conferência de imprensa de quinta-feira. Ainda no ano passado, na altura num encontro mais discreto com accionistas, Takada, de 49 anos, já tinha dito que lamentava “não ter dado ainda as devidas explicações”.

Ordenado pela metade

Soube-se também nestes dias que o CEO da fabricante japonesa de airbags e outros mecanismos de segurança automóvel – neto do fundador da empresa, em 1933 – viu o seu ordenado cair para metade no ano fiscal terminado em Março. Depois de receber cerca de 1,5 milhões de euros entre Março de 2013 e o mesmo mês de 2014, Takada passou para vencimentos de 726 mil euros nos doze meses terminados em Março passado.

Os quatro principais responsáveis da Takata não ganharam qualquer bónus este ano, recebendo no seu conjunto cerca de 1,5 milhões euros – sensivelmente o mesmo que o CEO tinha arrecadado sozinho um ano antes.

Honda já revê resultados em baixa

Uma das marcas mais afectadas pela crise dos airbags da Takata foi a também japonesa Honda. Os mais de 20 milhões de carros recolhidos para resolver o problema terão o seu efeito nas contas da Honda, que já veio a público anunciar uma revisão em baixa dos ganhos.

A Honda espera atingir este ano um resultado operacional de 4,4 mil milhões de euros (antes de juros, impostos, depreciação e amortização), menos 19% do que no ano passado. A explicação dada pela empresa está no extenso programa de recolhas gratuitas de automóveis para substituir o airbag. 

emanuel.costa@sol.pt