À sombra da tecnologia

Espreguiçadeiras electrónicas para bebé transformadas em obras de arte, caixas de visualização de radiografias, música e dança de várias partes do mundo compiladas num vídeo frenético, um ecrã de televisão plano em funcionamento mas parcialmente pintado. A tecnologia e uma visão crítica dos nossos dias estão em todos os cantos de ‘Sob as Nuvens: da…

A mostra, comissariada por João Ribas, director-adjunto do museu, parte do princípio de que o mundo do pós-guerra vive sob uma dupla sombra: a nuvem em forma de cogumelo da bomba atómica e a nuvem das redes de informação. Curiosamente, a segunda foi uma decorrência da primeira: em caso de ataque nuclear, era necessário manter uma infra-estrutura de comunicações que resistisse, através de uma rede de conexões digitais. Assim nasceu aquilo que hoje conhecemos como internet.

«A exposição não é cronológica, mas cada sala introduz vários temas e vertentes. Há uma saturação de imagem e conteúdos que de uma maneira quase retórica está a reforçar a experiência de vida contemporânea. Estamos numa sala e ainda ouvimos o que se passa na anterior, numa cacofonia que também tem a ver com a fronteira entre espaço público e privado», explica ao SOL João Ribas, de 36 anos, que chegou a Serralves em Janeiro de 2014, após um percurso premiado nos Estados Unidos, nomeadamente no Centro de Artes Visuais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

A viagem por esta exposição inicia-se literalmente sob as Nuvens Prateadas de Andy Warhol e há vários outros grandes nomes representados, como Joseph Beuys, Guy Debord, Yves Klein ou Christopher Wool. A obra mais antiga data de 1957, mas há um grande número de peças muito recentes, de jovens artistas como o português Pedro Henriques. Aliás, a presença de criadores nacionais é significativa. «Os artistas portugueses têm muito para dizer sobre estes temas. A minha curiosidade não tem fronteiras geográficas, mas faz parte da nossa missão dar um contexto internacional à arte portuguesa e pôr a sua produção num contexto internacional», esclarece Ribas.