"Há um conjunto de medidas que, eventualmente, as próprias autoridades gregas podem tomar para evitar que haja uma situação de descontrolo financeiro. É um conjunto de medidas que só as próprias autoridades poderão tomar, como aliás já houve exemplos noutros países", disse Maria Luís Albuquerque em conferência de imprensa, após o Eurogrupo de hoje e a reunião de ministros que se seguiu, mas já sem a presença do ministro grego, Yanis Varoufakis.
A medida mais falada é a introdução de controlo de capitais na Grécia, que terá de ser decidida pelo Governo e que visa impedir a saída em larga escala de dinheiro dos bancos, já que se prevê que se agrave ainda mais a fuga de depósitos perante a situação agora existente.
Essa decisão poderá passar por limites aos levantamentos ou às transferências internacionais de dinheiro.
Chipre foi o único membro da zona euro que já impôs controlos de capitais. Duraram cerca de dois anos e foram impostos quando o país pediu ajuda financeira e antes de conseguir o acordo com os credores internacionais.
É também falada a possibilidade de os bancos gregos estarem fechados temporariamente na segunda-feira.
Outra das questões em cima da mesa tem a ver com o financiamento dos bancos gregos, que se têm mantido com liquidez graças à linha de emergência do Banco Central Europeu (BCE).
Até agora, o presidente do BCE, Mario Draghi, tinha conseguido convencer o Conselho de Governadores a manter o dinheiro de emergência da Grécia porque o país, apesar das dificuldades, estava suportado por um programa de resgate.
No entanto, esse programa termina na próxima terça-feira (30 de junho) e os parceiros europeus recusaram hoje estendê-lo.
Uma reunião do Conselho dos Governadores do BCE – que reúne os seis membros do diretório da instituição e os 19 governadores dos bancos centrais dos países da zona euro – deverá acontecer este domingo para decidir precisamente sobre a manutenção aos bancos gregos dos empréstimos de emergência.
Na sexta-feira à noite, o Eurogrupo foi surpreendido pela decisão do Governo grego de realizar um referendo a 05 de julho, para que o povo grego decida se aceita, ou não, o acordo proposto pelos credores.
Isto a poucos dias de terminar o programa de resgate, na próxima terça-feira, quando expira ainda o prazo para a Grécia reembolsar quase 1.600 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo que sem dinheiro deverá entrar em incumprimento ('default').
A ministra das Finanças portuguesa disse também hoje aos jornalistas que o Eurogrupo vai fazer uma "monitorização permanente" da situação da Grécia e da zona euro depois do que se passou nas últimas horas e que esta pronto para reunir-se assim que seja necessário.
"Estamos todos um bocadinho de prevenção", afirmou Maria Luís Albuquerque.
Quanto a um eventual contágio a outros países da zona euro, inclusivamente Portugal, a governante minimizou, reiterando que o país dispõe hoje de "uma reserva financeira muito confortável", para "vários meses", e disse ainda que há mais instrumentos para lidar com situações destas do que antes da crise e que tanto a União Europeia como o BCE têm mecanismos que "podem ser acionados caso venha a justificar-se".
Ainda assim, admitiu que haja "alguma perturbação nos mercados" face à rutura nas negociações com a Grécia, pois é uma "situação que nunca foi vivida antes".
Lusa/SOL