Maria Luís diz que Atenas pode ter de tomar medidas para evitar ‘descontrolo’ no sistema bancário

A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, disse hoje em Bruxelas que as autoridades da Grécia poderão ter de tomar medidas para evitar “uma situação de descontrolo” no sistema bancário do país. 

"Há um conjunto de medidas que, eventualmente, as próprias autoridades gregas podem tomar para evitar que haja uma situação de descontrolo financeiro. É um conjunto de medidas que só as próprias autoridades poderão tomar, como aliás já houve exemplos noutros países", disse Maria Luís Albuquerque em conferência de imprensa, após o Eurogrupo de hoje e a reunião de ministros que se seguiu, mas já sem a presença do ministro grego, Yanis Varoufakis.

A medida mais falada é a introdução de controlo de capitais na Grécia, que terá de ser decidida pelo Governo e que visa impedir a saída em larga escala de dinheiro dos bancos, já que se prevê que se agrave ainda mais a fuga de depósitos perante a situação agora existente.

Essa decisão poderá passar por limites aos levantamentos ou às transferências internacionais de dinheiro. 

Chipre foi o único membro da zona euro que já impôs controlos de capitais. Duraram cerca de dois anos e foram impostos quando o país pediu ajuda financeira e antes de conseguir o acordo com os credores internacionais.

É também falada a possibilidade de os bancos gregos estarem fechados temporariamente na segunda-feira.

Outra das questões em cima da mesa tem a ver com o financiamento dos bancos gregos, que se têm mantido com liquidez graças à linha de emergência do Banco Central Europeu (BCE).

Até agora, o presidente do BCE, Mario Draghi, tinha conseguido convencer o Conselho de Governadores a manter o dinheiro de emergência da Grécia porque o país, apesar das dificuldades, estava suportado por um programa de resgate. 

No entanto, esse programa termina na próxima terça-feira (30 de junho) e os parceiros europeus recusaram hoje estendê-lo.

Uma reunião do Conselho dos Governadores do BCE – que reúne os seis membros do diretório da instituição e os 19 governadores dos bancos centrais dos países da zona euro – deverá acontecer este domingo para decidir precisamente sobre a manutenção aos bancos gregos dos empréstimos de emergência.

Na sexta-feira à noite, o Eurogrupo foi surpreendido pela decisão do Governo grego de realizar um referendo a 05 de julho, para que o povo grego decida se aceita, ou não, o acordo proposto pelos credores. 

Isto a poucos dias de terminar o programa de resgate, na próxima terça-feira, quando expira ainda o prazo para a Grécia reembolsar quase 1.600 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo que sem dinheiro deverá entrar em incumprimento ('default').

A ministra das Finanças portuguesa disse também hoje aos jornalistas que o Eurogrupo vai fazer uma "monitorização permanente" da situação da Grécia e da zona euro depois do que se passou nas últimas horas e que esta pronto para reunir-se assim que seja necessário. 

"Estamos todos um bocadinho de prevenção", afirmou Maria Luís Albuquerque.

Quanto a um eventual contágio a outros países da zona euro, inclusivamente Portugal, a governante minimizou, reiterando que o país dispõe hoje de "uma reserva financeira muito confortável", para "vários meses", e disse ainda que há mais instrumentos para lidar com situações destas do que antes da crise e que tanto a União Europeia como o BCE têm mecanismos que "podem ser acionados caso venha a justificar-se".

Ainda assim, admitiu que haja "alguma perturbação nos mercados" face à rutura nas negociações com a Grécia, pois é uma "situação que nunca foi vivida antes".

Lusa/SOL