‘Laura’ (o nome verdadeiro não é referido pela imprensa belga), de 24 anos, explicou aos especialistas que sofria de depressão desde que era criança e que queria morrer, pode ler-se no Independent, que cita o jornal De Morgen.
A jornalista que a entrevistou descreve-a como uma pessoa “calma, equilibrada e segura de si mesma”. Tem amigos, gosta de teatro, de fotografia e de um bom café, cita o jornal francês Le Figaro.
À primeira vista, Laura parecer ser uma mulher como todas as outras, mas diz ter desde muito nova um sofrimento psicológico insuportável.
“Tenho um ar muito calma, mas provavelmente mais tarde, vou estar a rebolar no chão por causa da dor que me auto-inflijo. A minha luta interior não tem fim”, afirma.
Diz que a primeira vez que pensou em suicidar-se estava “na infantil”. Aos seis anos, pegou numa arma que não sabia que estava carregada e pensou em suicidar-se. “Se naquela altura tivesse sabido, tinha disparado”. Tentou fazê-lo, aliás, várias vezes ao longo de toda a vida.
“A minha vida tem sido uma luta desde que nasci”, garante.
Laura cresceu com os avós porque, segundo a mesma, os seus pais tiveram-na quando ainda eram muito novos. Apesar de ter crescido num lar que lhe deu “segurança e paz”, isso não foi suficiente e tem a certeza que a sua infância teve um grande contributo para o seu sofrimento.
Aos 21 anos, internou-se voluntariamente num hospital psiquiátrico. Hoje em dia, a jovem diz que viver já não é uma opção.
“Se eu pudesse escolher, escolhia uma vida suportável. Eu fiz de tudo e nada resolveu o meu problema”, afirma Laura.
Um processo complexo
O processo para se ter autorização para a eutanásia é complexo. Jacqueline Herremans, advogada e presidente da Associação pelo direito de morrer com dignidade, na Bégica (SMDM, na sigla belga), explica que Laura teve de começar por fazer um pedido por escrito ao seu médico ou psiquiatra. Caso este aceite, tem de ter a certeza que o seu doente está consciente, na posse total das suas faculdades mentais e que o seu pedido foi feito “de maneira voluntária e reflectida”. O especialista tem ainda de avaliar a doença, para se assegurar que é “incurável”, e tem de informar o paciente de todas as alternativas terapêuticas existentes para a sua condição.
Se o médico chegar à conclusão que o caso não tem solução, tem a obrigação de consultar outro médico independente e competente para fazer uma nova avaliação. Esse segundo especialista estuda o caso, conhece o doente e escreve um relatório. O caso passa depois para um terceiro médico, que volta a analisar a situação. De todas as vezes, os médicos perguntam se esta vontade do doente é voluntária e pensada. Em seguida, é enviada uma declaração à comissão que controla as mortes por eutanásia, à qual os especialistas apresentam o caso.
Em todo este processo, a família só é consultada caso o doente esteja de acordo. “Até ao último minuto, o paciente pode mudar de ideias”, garante Herremans.
Laura está actualmente a planear o seu funeral. O dia da sua morte ainda não está definido, mas será já este Verão.
A eutanásia foi legalizada na Bélgica em 2002. Todos os anos, cerca de 1.400 pessoas são eutanasiadas. Em 2013, o Parlamento belga autorizou a que a lei também pudesse ser aplicada a crianças com doenças terminais.