Novo Banco: Chineses da Anbang favoritos

A venda do Novo Banco entrou na recta final. O supervisor bancário está a analisar à lupa as propostas dos três finalistas – Anbang, Fosun e Apollo – e quer concluir o processo até ao final deste mês. No mercado,  ainda subsistem dúvidas quanto ao valor real das ofertas em cima da mesa, mas tudo…

Para já, parece consensual que o Anbang Insurance Group é o candidato mais bem posicionado para comprar a instituição que herdou os activos saudáveis do BES. O grupo segurador chinês terá formalizado a proposta financeira mais atractiva e estará ainda disponível para subir a fasquia.

O preço é o principal critério na escolha do vencedor, mas não é o único. A disponibilidade do candidato para comprar a totalidade dos activos à venda, os planos estratégicos para o desenvolvimento do banco e o impacto na concorrência e estabilidade financeira do sector são factores determinantes. O conglomerado Anbang posiciona-se na linha de frente em todos estes critérios.

Dos seguros ao Waldorf Astoria

O Anbang Insurance Group nasceu em 2004, com a abertura da primeira filial em Pequim. Inicialmente focado no negócio de seguros automóvel, o grupo diversificou a actividade no ramo segurador ao longo da última década. Ainda assim, no seu mercado doméstico, o Anbang tem uma quota de mercado inferior a 5%, não sendo considerado um dos 'pesos pesados' do sector segurador, segundo a Bloomberg.

Liderado por Wu Xiaohui – empresário casado com uma neta do ex-líder chinês Deng Xiaoping -, o Anbang foi mundialmente noticiado quando adquiriu o famoso hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque. O grupo investiu 1,8 mil milhões de dólares, protagonizando o maior negócio de sempre entre chineses e americanos.

Ainda no ano passado, o  Anbang comprou a Fidea Assurances, uma seguradora belga, e o segundo maior banco da Coreia do Sul, o Woori. Já este ano, foi novamente às compras, adquirindo a seguradora holandesa Vivat e a sul-coreana Tongyang Life.

Entre os três candidatos à compra do Novo Banco, o Anbang é o único que não tem actividade em Portugal – uma vantagem competitiva em termos de concorrência.

Já a Fosun controla a Luz Saúde (antiga Espírito Santo Saúde), detém uma posição na REN e pagou mil milhões de euros pela Caixa Seguros. O grupo sediado em Xangai celebrou uma parceria estratégica com a CGD, na comercialização dos produtos da Fidelidade aos balcões do banco estatal, o que  poderá ser o maior obstáculo à compra do Novo Banco.

Já o private equity norte-americano Apollo Global Management adquiriu a Tranquilidade, após ter sido excluído do concurso de privatização da Fidelidade. Apontado como o candidato que apresentou a oferta mais baixa, a Apollo estaria a reconstituir parte do antigo universo Espírito Santo ao desenvolver sinergias entre o Novo Banco e a Tranquilidade.

“A ambição do Anbang Insurance é crescer para um grupo financeiro internacional com todo o tipo de serviços de seguros que figure no top 10 mundial”, lê-se na página oficial da seguradora.

A estratégia a longo prazo do grupo passa por construir um modelo de negócio em que os seguros e o investimento são a espinha dorsal.

O Banco de Portugal (BdP) está a avaliar se as ofertas reúnem os requisitos formais e depois fará uma avaliação qualitativa das propostas.

Escolher um ou avançar para leilão

O governador terá de decidir se selecciona um ou vários candidatos. Segundo as regras estipuladas no caderno de encargos, se houver uma proposta que se destaque das restantes, o supervisor deverá iniciar uma fase de negociação final com esse candidato. Se decidir escolher mais do que uma oferta, o BdP deverá avançar para um leilão final, em que os potenciais compradores são convidados a apresentar propostas mais elevadas e definitivas.

Durante todo o procedimento, Carlos Costa manteve os canais de comunicação com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e outras autoridades regulatórias e de supervisão, que terão de dar parecer sobre a alienação do Novo Banco.

O supervisor poderá excluir as propostas dos candidatos que levantem dúvidas quanto à sua capacidade de executar a operação atempadamente.

O custo da resolução do BES para os contribuintes vai depender do encaixe com a venda do Novo Banco. Se este for vendido por menos de 4.900 milhões de euros – valor insuficiente para reembolsar os empréstimos do Estado e da banca – o Fundo de Resolução utilizará as receitas próprias. Ou seja, serão as contribuições do sector bancário a pagar a diferença.

As propostas para o reforço de capital do Novo Banco apresentadas pelos três candidatos têm impacto no preço final. Também as exigências do BCE no âmbito dos testes de stresse, uma possível reestruturação da actividade do Novo Banco a impor por Bruxelas e os custos com processos judiciais podem condicionar o valor do banco.

sandra.a.simoes@sol.pt