Mas alguém impediu a Grécia de ter eleições livres? Alguém proibiu que elegessem uma força radical como o Syriza? Ninguém. Democracia, nesta curiosa acepção, quer dizer que se pode impor a vontade de um eleitorado, o grego, contra a vontade de 18 outros eleitorados (no caso da Zona Euro) ou sobrepô-la a outros 27 países (no caso da UE)?
Querem um referendo? Podem até fazer dez referendos seguidos que isso não resolve a questão de fundo. O problema continua lá: esta Grécia é uma sociedade que não se sustenta a si própria, que não produz o suficiente para o que gasta, que precisa, há muitos anos, de andar a pedir créditos e dinheiro aos outros. E isso só se resolve de uma forma: reduzindo custos (salários, pensões, apoios sociais), aumentando receitas (impostos, mais ou menos progressivos conforme a ideologia) e equilibrando as contas. Em suma, baixando o nível de vida. É a isto que se chama austeridade.
E os gregos, infelizmente para eles, de uma maneira ou de outra, nos próximos anos, não poderão evitá-la. Ou dentro da Zona Euro, sem mais disfarces (com reduções nas reformas e custos sociais) mas com apoios europeus sólidos. Ou, então, voltando à moeda própria, o dracma, e aplicando a austeridade de forma mais indolor (com sucessivas desvalorizações da moeda) mas muito mais violenta (cada desvalorização significa um corte automático no nível de vida, nos salários e pensões).
Será um drama para muitos gregos. Mas não chegará a ser uma tragédia. A Hungria ou a República Checa têm uma população semelhante à Grécia, estão fora da Zona Euro e conseguem fazer crescer, com altos e baixos, o seu PIB. Há coisas piores.
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