A detenção acontece no âmbito da Operação Marquês, numa altura em que a investigação se vira para o empreendimento turístico de Vale do Lobo, no Algarve.
De acordo com uma nota da Procuradoria-Geral da República enviada às redacções, em causa estão "factos susceptíveis de integrarem os crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais". Decorreram ainda buscas a residências, escritórios e um banco.
Vara aguarda interrogatório que deverá ser dirigido amanhã pelo juiz de instrução Carlos Alexandre e irá passar a noite numa cela do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP.
Vale do Lobo é um dos dossiês investigados no inquérito a José Sócrates porque os dados bancários remetidos pelas autoridades suíças a Portugal indicam que 12 dos 23 milhões de euros que estão nas contas de Carlos Santos Silva e que se suspeita serem na realidade do ex-primeiro-ministro, tiveram origem em offshores de Hélder Bataglia. Este gestor luso-angolano, presidente da Escom, é um dos sócios principais do resort turístico algarvio.
Em 2006, quando a CGD tinha Vara como vice-presidente, o banco do Estado financiou Vale do Lobo em mais de 200 milhões de euros, tendo comprado 25% do capital. Segundo cálculos posteriores, a CGD teve posteriormente perdas superiores a 100 milhões de euros com o negócio.
Vale do Lobo, a par das PPP rodoviárias, do TGV, da Parque Escolar e das casas na Venezuela, tudo empreendimentos do grupo Lena, são negócios em que o Ministério Público suspeita que tenham gerado 'luvas' para José Sócrates, que justificarão os 23 milhões de euros acumulados nas contas do amigo Carlos Santos Silva.
Armando Vara, ex-ministro da Administração Interna e dirigente socialista, é amigo pessoal de Sócrates. Foi condenado em Setembro de 2014 a cinco anos de prisão efectiva pelo Tribunal de Aveiro, no âmbito do processo Face Oculta, por tráfico de influência — decisão que está em recurso no Tribunal da Relação do Porto. Ficaram na altura por investigar, no mesmo processo, indícios de crime de atentado contra o Estado de Direito, que envolviam Vara e Sócrates, suspeitos de tentar controlar alguns órgãos de comunicação social que consideravam hostis à governação socialista. As suspeitas, que incluíam escutas telefónicas, foram arquivadas por decisão do então procurador-geral da Republica, Pinto Monteiro, e de Noronha Nascimento, que presidia ao Supremo Tribunal de Justiça.
A terceira figura que aparecia numa dessas escutas era Carlos Santos Silva, então administrador do grupo Lena, que estava de férias com Sócrates e atendeu um desses telefonemas de Vara para o então primeiro-ministro.
Actualizada às 23h20