Ricardo Melo Gouveia igualou ontem (Domingo) Filipe Lima como os jogadores portugueses com mais títulos no Challenge Tour, ao conquistar o seu segundo troféu na segunda divisão do golfe europeu, no Aegean Airlines Challenge Tour by Hartl Resort, em Bad Griesbach, na Alemanha.
Não contamos nesta contabilidade títulos com os êxitos no Aa St. Omer Open de Filipe Lima (2004) ou o Madeira Islands Open BPI de Ricardo Santos (2012) por serem, sobretudo, torneios do European Tour que também contam para o Ranking do Challenge Tour.
Tal como aconteceu no final da época passada no EMC Golf Challenge Open, em Roma, o português de 23 anos partiu para a última volta com 2 pancadas de atraso em relação ao líder e se em Itália ainda precisou de ir a um emocionante play-off de três buracos para se impor, na Baviera bastaram-lhe os 72 buracos regulamentares para esmagar o 2º classificado, o sul-africano nascido no Zimbabué, Den Burmester, por 4 pancadas.
Um triunfo ainda mais saboroso por Den Burmester contar no seu palmarés com quatro troféus do conceituado Sunshine Tour, dois dos quais este ano.
“Melinho” calculava que «precisaria de 16 abaixo do Par para vencer mas 15 abaixo chegaram» e agregou 269, com voltas de 63, 70, 69 e 67.
Os outros portugueses – Ricardo Santos, João Carlota e Pedro Figueiredo – falharam o cut. Mas “Figgy” e Carlota acompanharam até ao fim o sucesso do seu compatriota e amigo e manifestaram largamente nas redes sociais o seu contentamento.
Ricardo retribuíu-lhes nas declarações prestadas ao press officer do Challenge Tour: «Portugal tem grandes condições para o golfe, em termos de clima, os campos são óptimos e tudo é muito bom. Só precisamos de alguém que jogue no topo do golfe mundial para que as crianças olhem para ele e comecem eles próprios a irromper. Eu, o Pedro Figueiredo, Ricardo Santos, Filipe Lima e muitos outros estamos no caminho certo para forjar essa mentalidade em Portugal».
O n.º1 português embolsou 27.200 euros, soma agora 66.044 em 2015 neste circuito e subiu do 7º ao 2º lugar do Ranking do Challenge Tour.
Note-se que no final da época os 15 primeiros sobem ao European Tour, na qual esteve quase a entrar, pois em 2014 só falhou o apuramento via Escola de Qualificação por 1 única pancada.
Joel Neto, no blog “Tudo sobre Golfe” do jornal “O Jogo”, fez os seguintes cálculos: «A menos de dois mil euros do topo da classificação e com quase 40 mil de vantagem sobre o 16º classificado; Tendo em conta o valor médio dos prémios praticados actualmente na segunda divisão europeia, já só um desastre de proporções épicas conseguirá afastá-lo do European Tour».
O próprio jogador deu razão a esta estimativa, quando, no seu discurso de campeão, depois de agradecer à organização, patrocinadores, familiares, namorada e amigos, disse não contar defender o título em 2016 porque espera «estar no circuito principal».
Se assim for, como publicou hoje o jornal “Record”, tornar-se-á no terceiro português «a usar o Challenge Tour como trampolim para o escalão principal, depois de Filipe Lima tê-lo feito por duas vezes e Ricardo Santos numa ocasião».
A força mental de Ricardo Melo Gouveia, mas também o bom enquadramento familiar e técnico, foram fundamentais para este bom momento, pela forma como se apropriou dos períodos mais negativos e os transformou em aspectos positivos: «Eu estava muito desapontado depois da Escola de Qualificação, mas o meu pai disse-me que era preciso olhar para o lado positivo e que poderia forjar o meu jogo para as exigências do European Tour. Agora, penso que talvez tivesse sido cedo de mais ter dado aquele passo e foi óptimo não ter subido logo».
Para além do pai, há outro Tomás ligado a esta vitória na Alemanha, uma vez que também o seu irmão foi um caddie de luxo durante toda a semana. Tomás, ainda amador, está a seguir-lhe as pisadas, ao competir no circuito universitário norte-americano, na Florida.
Este enquadramento é fundamental. Não podemos esquecer que tudo é ainda muito recente e inédito na sua vida, mesmo quando compete quase como um veterano e declara: «Tem tudo a ver com a experiência e eu estou a ficar cada vez melhor. Estou satisfeito por ter tido tantas oportunidades no Challenge Tour, de ter estado perto das lideranças, de ter havido duas ou três ocasiões este ano em que senti que poderia ter ganho e não ganhei. Aprendi a manter a calma e a gerir essas situações. É um bom treino para o European Tour no próximo ano».
Às vezes é bom dar passos curtos e seguros. Afinal, o campeão nacional amador de 2009, que se cotou como um dos melhores jogadores do circuito universitário norte-americano ao serviço dos “Knights” da UCF (Florida), só encerrou a carreira amadora no verão do ano passado com uma vitória no PGA Portugal Tour e um sucesso inédito para um português na Palmer Cup.
Poucos meses depois de se ter tornado profissional venceu quase de rajada no EMC Challenge Open em Roma e num dos torneios da Segunda Fase Escola Qualificação do European Tour. O falhanço por 1 “shot” na Final da Escola e uma intervenção cirúrgica para melhorar a acuidade visual foram rapidamente superados com triunfos no início de 2015 no PGA Portugal Tour e no Algarve Pro Golf Tour.
“Melinho” estava, pois, bem preparado e rodado para enfrentar o Challenge Tour de 2015 e não é por acaso que o press officer do Challenge Tour escreveu que «é o único do top-15 a ter jogado no fim de semana em todos os eventos que disputou até ao momento, com sete top-20 em oito torneios. Era só uma questão de tempo até adornar a sua sala de troféus com uma segunda taça». Os seus resultados são ainda mais impressionantes do que isso pois em nove torneios ganhou um e obteve mais cinco top-10!
O Aegean Airlines Challenge Tour by Hartl Resort começou da melhor maneira para o algarvio, que liderou logo aos 18 buracos o torneio de 170 mil euros em prémios, com 63 pancadas, 8 abaixo. Uma marca que igualou a sua melhor de sempre no Challenge Tour e que fixou um novo recorde do Par do Beckenbauer Course (em honra da estrela do futebol). Curiosamente nos dias seguintes, houve sempre jogadores a empatarem esse 63.
Mas se começou forte, acabou do mesmo modo. Foi nessas duas voltas, a primeira e a última, aquelas em que não sofreu nenhum bogey. E em quatro dias totalizou 20 birdies e 1 eagle!
«Vencer uma vez foi muito bom, mas fazê-lo duas vezes é ainda melhor porque mostra que tenho capacidade de ganhar mais do que um título», disse, explicando ainda porque razão andava perto do título mas não conseguia fechá-lo: «Este foi especial porque eu tenho andado a jogar bem, mas, simplesmente, os putts não entravam e esta semana fui capaz de capitalizar nesse aspecto».
O putt, sempre o putt: «Acho que o meu jogo comprido está ao nível dos jogadores do topo, mesmo os do European Tour. A única diferença é o meu jogo curto. Se o meu putting estiver bom, sei que irei disparar resultados baixos e que irei ganhar ou ficar perto da vitória».
Todos os seus companheiros, tanto nos tempos das seleções nacionais amadoras da FPG, como na UCF norte-americana, como ainda agora na PGA de Portugal dizem que é um dos jogadores que mais trabalha e é por isso que acredita no seu futuro. Os resultados do último ano não são fruto de um talento desmesurado, de uma inspiração fortuita, mas de planeamento e labor.
«Eu não diria que as coisas estão a acontecer-me facilmente agora. Acho que é o trabalho no duro que está a dar os seus dividendos, é tudo o que fiz nos últimos quatro ou cinco anos na Universidade. A transição (do amadorismo para o profissionalismo) foi boa e é claro que o final do ano passado deu-me muita confiança», sublinha.
Agora, com dois títulos do Challenge Tour no seu palmarés, com seis títulos profissionais a nível individual em apenas um ano no conjunto de vários circuitos, a crença é ainda maior: «O meu objectivo é ser um dos melhores do Mundo e ser o melhor português será uma consequência disso. Os meus objectivos são globais e se continuar a jogar assim irei atingí-los a longo prazo».
Não sabemos se Ricardo Melo Gouveia é supersticioso mas ganhou o EMC Golf Challenge Open no dia 5 de Outubro e venceu o Aegean Airlines Challenge Tour by Hartl Resort no dia 5 de Julho… valerá a pena perguntar qual o seu número da sorte?
Artigo escrito por Hugo Ribeiro, ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Semanário SOL