Numa conversa com a revista britânica Newstatesman, no mesmo dia em que a Grécia e o Eurogrupo chegaram a um acordo de princípio para um novo resgate a Atenas, o ex-ministro admite que o cenário de ‘Grexit’ estava em cima da mesa desde que o Governo tomou posse, embora não tenha havido uma ordem executiva para avançar para esse cenário.
“Tivemos um pequeno grupo, um ‘gabinete de guerra’ dentro do ministério, de cerca de cinco pessoas que estavam a fazer o seguinte: a trabalhar, em teoria, no papel, tudo o que tinha que ser feito [para se preparar para o caso de um Grexit]”, refere o economista.
Contudo, Varoufakis sublinha que a decisão de avançar por esse caminho nunca foi tomada. “A minha visão era que devíamos ser muito cuidadosos em não activá-lo”. Para Varoufakis, essa medida extrema seria apenas desencadeada se a Europa cortasse o financiamento aos bancos helénicos e forçasse o colapso do sistema financeiro.
Nesse cenário, o caminho estava definido: “Devíamos emitir nossos próprios IOUs [notas de dívida para pagamentos internos], ou pelo menos anunciar que iríamos emitir a nossa própria liquidez denominada em euros; devíamos fazer um ‘haircut’ aos títulos de dívida grega que o BCE detém, ou pelo menos que iríamos fazê-lo; e devíamos assumir o controlo do Banco da Grécia. Este foi o tríptico, as três coisas com que pensei que devíamos responder se o BCE desligasse os nossos bancos”, disse ao jornalista.
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Contudo, revela o ex-ministro, uma estratégia de maior confronto com as autoridades europeias nunca foi em frente porque não havia unanimidade dentro do Governo Syriza. A posição de Varoufakis, de maior confronto com o Eurogrupo, estava em minoria. “Em seis pessoas havia uma minoria dos dois. … Uma vez que isso não aconteceu recebi ordens para encerrar os bancos consensualmente com o BCE e o Banco da Grécia. Eu estava contra, mas fi-lo porque sou um jogador de equipa, acredito na responsabilidade colectiva”.
Varoufakis considera que o referendo às medidas de austeridade, após o qual saiu do Governo, foi uma oportunidade perdida para tomar uma posição de força perante as autoridades europeias. “O referendo deu-nos um impulso incrível, que teria justificado este tipo de resposta energética contra o BCE, mas naquela mesma noite o Governo decidiu que a vontade do povo, o retumbante 'Não', não deveria dar energia a esta abordagem”, lamenta.
Em vez disso, diz o ex-ministro, o referendo levou a “grandes concessões” e a um primeiro-ministro que aceitou a premissa de que, aconteça o que acontecer, aceitaria todas as condições impostas pelo Eurogrupo.